domingo, 9 de junho de 2024

Vamos votar?!

 

Mãe, já foste votar?

Hoje pela primeira vez, se estivesses entre nós, poderia fazê-lo contigo. Nunca aconteceu por morarmos em locais diferentes. É tão inevitável lembrar-me de ti. É tão bom sentir saudades tuas, são doces e não um grito por dentro, são as saudades de quem se decidiu pelo amor após tantos anos de afastamento. Tanto que me apetecia ligar-te hoje pois quase até ao final da tua vida a lucidez que te acompanhou ainda ditava interesse por estes processos eleitorais, embora muito menos por aquele que hoje se joga, a Europa não era o teu lugar.

Talvez achem estranho misturar amor e decisão na mesma equação. Mas aprendi a fazê-lo, não deixar que o amor seja dor e como tal não amar quando ele comporta lá dentro esse gaz mortífero. Se o amor não é bom, não tem aquele grau de alegria, cumplicidade e desafio, não vou atrás, por mais que vislumbre um brilho nos olhos e me pareça poder arrastar-me. 

Mãe, já foste votar? Faço por não entristecer e te celebrar este domingo, tinhas um sorriso tão bonito.

~CC~


Nota: Conheci ontem pela primeira vez em concerto do Festival Língua Terra, que beleza.


 



6 comentários:

  1. Votar é para os vivos um tributo para com os muitos que sofreram ou morreram para que o voto existisse. Suponho, por gostar de supor, que minha mãe gostaria de poder votar, ela que nunca sequer ouviu falar em democracia. Voto pelas duas num tributo, sempre numa homenagem a quem nos tornou possível o voto. É mais um dever que um direito, adquiri-o apenas como beneficiária da luta de outrem.
    Acredito que sua mãe gostasse de votar consigo, CC.
    Quanto a amores e seus processos, em seara alheia não me manifesto.
    Os meus desejos boa semana

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    1. Que pena a sua mãe nunca ter podido votar...acredito que a leve consigo Bea, nesse tributo. Falar de amor nunca é em seara alheia ou própria, é tão só nessa seara onde todos alguma vez nos movemos ou moveremos. Boa semana.

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    2. Apresentei a minha demissão desse território particular. Basta-me o que tive. Fica-me o amor geral e possível a quem gosto e me gosta com presença, palavras e actos, sentimento eivado de alegria e não apenas, que em tudo há dia e noite. E a certeza infinita dos que, por morte ou outro acidente, se foram. Vivem em mim sem remorso ou inveja do que hoje possam ter e onde não tenho lugar. Existiram. Foram-me tão próximos quanto se pode ser entre os viventes (ou assim o entendi eu) e isso é valor inestimável. A sua presença deu sentido à minha vida e nunca lhes serei indiferente. Na memória, permanecem indefectíveis. Diria que são a harmonia dos meus dias. Já não eles, nem por eles, mas por mim.
      Suponho que, no meu lugar de berço, aquele onde desejaria morrer, antes de 1974 ninguém ouvira a palavra democracia senão nós duas que pedalámos dia a dia até â instrução. E nem nós a conhecíamos de verdade,
      os professores não se detinham nela, era apenas uma palavra de um regime muito antigo a aprender, não nos entrava na carne.
      :) Bom Dia, CC; e vá descobrindo as coisas pequenas, detalhes que por aqui deixa e gostamos de ler.

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    3. Só pelos seus comentários vale a pena escrever:) Mas como observadora e contadora de histórias que é, a Bea tem que se interessar pelo amor, é combustível de vida até à morte.

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