terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Trilhos de silêncio



Estás ainda aí? Há mais de um ano que não te vejo. 
Acredito, porém, que tu e eu gostamos um do outro para sempre. Acredito nisso muitas vezes, enquanto noutras acho que já morreu o cheiro das maçãs verdes do nosso adolescer e nada trará isso de volta.
Não precisava de te ver muitas vezes, só mais algumas, és tu apenas que me chamas por um diminutivo. carinhoso e me apertas num abraço sem qualquer pudor.Não houve telefonemas nem mensagens de ano novo, contentei-me dizendo-me que nós não precisamos disso, são formalidades que dispensamos. Mas senti alguma falta.

Estás ainda aí? Vieste como foste? Da última vez fui eu a escrever-te e sem reciprocidade não há amizade que subsista. Vieste afinal buscar o quê? O sopro de uma palavra. O meu entristecer suave. O meu sangue tão próximo de outro sangue. Uma beleza que inventaste para me tornar mais bonita. O meu desejo de aldeias, o ritual das amendoeiras em flor. Nunca soube se amizade era o nome verdadeiro do que procuravas. Vieste, talvez já tenhas partido.

Os silêncios dos amigos. Com o tempo aprendi a perdoar o silêncio dos amigos, a imaginar que há sempre um motivo para que alguém que gostamos desapareça do horizonte assim como apareceu. A pensar que não desaparece, dorme um longo sono e logo acordará dentro de um abraço. Às vezes desejo esse abraço com uma força devastadora e de outras eu própria me esqueço do sabor que tinham.

Nunca soube como morrem as amizades porque apenas uma vez na vida tive uma amiga que veio veloz e desapareceu com igual rapidez. A maior parte permanece e outros foram levados quando virámos num cruzamento em sentidos diferentes, sem que ninguém tivesse parado para pensar para que lugar essas estradas nos levavam.

Só não choro mais pelos vossos silêncios porque o ruído habita em excesso a minha vida e falta-me recolhimento, falta-me paz. Outra lua e talvez possamos conversar.

~CC~






2 comentários:

  1. Muito bonito, CC. Se eu soubesse escrever assim, poderiam ser minhas algumas - senão todas - destas palavras. Dói tanto perder aqueles que julgávamos poder ter para sempre. Dói também não sabermos até que ponto tivemos responsabilidade na distância e nos silêncios.

    Boa semana. Um abraço.

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  2. Bonito, este seu texto.
    Eu acredito que cada pessoa está na nossa vida apenas o tempo que nos for necessário. Mas dói.

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