domingo, 31 de julho de 2016

Das mulheres


A Clara Ferreira Alves escreveu no Expresso desta semana um texto brilhante sobre as mulheres e o poder a propósito das eleições nos EUA. Também ela descreve o que é pior nisto tudo: quando as mulheres são as piores para as outras mulheres.

Lembrei-me da sala de exames da colonoscopia em que por engano esperei por uma consulta (por acaso havia de sair de lá com receita igual). A enfermeira disse ao marido da senhora (65/70 anos) para ir tomar um café e dar uma volta que antes dos próximos 45m a mulher não estaria cá fora. A senhora protestou: e se corre alguma coisa mal, fica aí por favor. A enfermeira repetindo: então, coitado do seu marido, deixe-o lá ir dar uma volta. Passei em revista uma vida inteira daquele casal, tantos anos a fio, tanta coisa passada, e ele sem poder esperar ali quieto 45m. O mais curioso é que o senhor nem falou, sorriu silenciosamente e quando a mulher entrou, meteu o rosto entre as mãos e não saiu dali. Era decente.

Elas sempre prontas a ficar do lado dos homens, a defender os maridos das outras, elas raramente ficando do lado das mulheres, sejam amigas ou colegas de trabalho. E no mundo profissional em que abundam mulheres, pior ainda, eles são uns privilegiados. No meu grupo de docentes sobre questões de género e reparem que o curso era sobre o tema, quando chegou a altura de escolher os representantes para apresentar o trabalho desenvolvido, logo escolheram o único homem presente...quando questionei porquê...as respostas tinham uma superficialidade enorme - porque fica bem ser um homem a falar destas coisas. O professor em causa era impecável e rejeitou a ideia mas acrescentou: é sempre assim quando há um homem.

Não sei portanto onde é que a luta se deve situar.

~CC~

terça-feira, 26 de julho de 2016

Em agenda (1)


A "tempestade" no teatro Mirita Casimiro.

Acresce um facto importante: uma das meninas é a minha sobrinha. Uma escolha de vida sem dúvida muito corajosa. Lá estarei em breve para os aplausos.

~CC~



segunda-feira, 25 de julho de 2016

Verão (grandes coisas)



O desgoverno do mundo. Intenso, profundo, complexo.

Todas as simplificações são abomináveis e no entanto vendáveis, compráveis, ditas e repetidas de boca em boca.

Os jornalistas estão em geral mal no retrato, sanguessugas a sorver sangue e a espalhá-lo com requinte.

O ódio é um bicho a crescer no medo. Ter medo e não ter ódio é a medida primeira que tomo para mim própria.

~CC~




quarta-feira, 20 de julho de 2016

Verão (pequenas coisas)



Há crianças a jogar à bola na rua.

~CC~

terça-feira, 19 de julho de 2016

Quero só silêncio



Dantes as férias eram férias a sério. Com aquele enjoo de vazio que era preciso preencher. Dias inteiros de sol e praia sem o pesadelo do estacionamento. Agora levo dois artigos para escrever e uma vontade igual a zero de o fazer.

Falo nelas mas serão apenas em Agosto, sem hipótese para mais ou para diferente. Dizer que já desisto de apanhar o barco para Tróia em Julho, como aconteceu no último Domingo, quanto mais em Agosto. Na última sexta feira em Alfama fiquei verdadeiramente espantada com a invasão de turistas, mais impressionante do que em Florença (também estive lá em Dezembro, não sei como será no Verão).

Procuro assim uma aldeia sem festas de Verão. Uma aldeia fresca e silenciosa onde possa ouvir pela manhã os pássaros e não o chiar constante dos carros e das ambulâncias. È só pelo que já anseio: um pouco de silêncio e dois livros para ler.

~CC~


terça-feira, 12 de julho de 2016

A festa



Como qualquer cidadão de um país pequeno, periférico, intervencionado pela Troika, eternamente ameaçado por sanções dos que se dizem protectores e amigos, festejei  a vitória de Portugal.

Metade da minha festa não tinha nada a ver com futebol, a matéria que a alimentava a alegria era feita das lágrimas dos pobres, tão parecida com a raiva que sentem os povos mais humilhados do mundo., eternamente espoliados da sua riqueza pelos mais poderosos. Se calhar não devia ser assim, não era nada disto que devia sentir, mas na verdade quase nada no mundo devia ser assim.

Por isso de nada me servia a rua nem os gritos dos outros, o que eu sentia era íntimo e pessoal, talvez impossível de partilhar. Para além disso a noção clara de que sentimentos próximos da palavra vingança são terrivelmente feios, não servem de nada, nem sequer a luta política que, quanto a mim, deve ser serena e racional. 

É melhor deixar a festa sem as minhas contradições, dúvidas e hesitações.

~CC~

quarta-feira, 6 de julho de 2016

O melhor do euro



O silêncio que atravessa o tempo e o espaço durante os jogos. As ruas absolutamente vazias. O entardecer tranquilo.


~CC~

Esta coisa dos blogues



Anunciado num centro comercial com pompa e circunstância a participação dos blogues na própria dinâmica cultural a implementar, pensei logo em cinema ou literatura. À medida que as fotos e os nomes apareciam percebi que se tratava de moda, ou melhor ainda, de quem ditava as tendências da moda. Não conhecia nenhum e nenhuma dos anunciado(s), o que me demonstrou mais uma vez que somos sempre ignorantes num campo qualquer.

Consta que o êxito actual dos blogues passa quase exclusivamente por aí. Trata-se de escrita a pedido com objectivos comerciais. Tudo tem lugar e é legítimo. Mas a hegemonia pode se tornar sempre uma coisa assustadora. Assim como o disfarce, pois nem sempre consta a linha explicativa que clarifica que se trata da venda de um produto, parece que muitas vezes paga a peso de ouro.

Quem diria que esta aventura que parecia expandir o mundo acabaria assim, um primo pobre do Facebook para fins comerciais...

~CC~