A Clara Ferreira Alves escreveu no Expresso desta semana um texto brilhante sobre as mulheres e o poder a propósito das eleições nos EUA. Também ela descreve o que é pior nisto tudo: quando as mulheres são as piores para as outras mulheres.
Lembrei-me da sala de exames da colonoscopia em que por engano esperei por uma consulta (por acaso havia de sair de lá com receita igual). A enfermeira disse ao marido da senhora (65/70 anos) para ir tomar um café e dar uma volta que antes dos próximos 45m a mulher não estaria cá fora. A senhora protestou: e se corre alguma coisa mal, fica aí por favor. A enfermeira repetindo: então, coitado do seu marido, deixe-o lá ir dar uma volta. Passei em revista uma vida inteira daquele casal, tantos anos a fio, tanta coisa passada, e ele sem poder esperar ali quieto 45m. O mais curioso é que o senhor nem falou, sorriu silenciosamente e quando a mulher entrou, meteu o rosto entre as mãos e não saiu dali. Era decente.
Elas sempre prontas a ficar do lado dos homens, a defender os maridos das outras, elas raramente ficando do lado das mulheres, sejam amigas ou colegas de trabalho. E no mundo profissional em que abundam mulheres, pior ainda, eles são uns privilegiados. No meu grupo de docentes sobre questões de género e reparem que o curso era sobre o tema, quando chegou a altura de escolher os representantes para apresentar o trabalho desenvolvido, logo escolheram o único homem presente...quando questionei porquê...as respostas tinham uma superficialidade enorme - porque fica bem ser um homem a falar destas coisas. O professor em causa era impecável e rejeitou a ideia mas acrescentou: é sempre assim quando há um homem.
Não sei portanto onde é que a luta se deve situar.
~CC~