Antes chamaria a isto um desfasamento perfeito entre o coração e a cabeça. Isto antes de saber que o coração é só um músculo que não alberga sentimentos. O que se passa é pior, visto que é uma luta no interior do cérebro.
Uma parte a lamentar, a chorar, a entristecer. A outra a rir, a festejar, a orgulhar-se.
Será que é isto que todas as mães sentem quando os filhos saem para fora do país para uma estadia mais ou menos prolongada, mesmo que com um objectivo perfeitamente compreensível? O que será prolongada para cada mãe? São cerca de seis meses, à partida. Confiante que no fim deles virá com a saudade de um banho de mar, do sol, da comida, do namorado, dos amigos, de nós. Quando saiu de casa não foi fácil mas estava a 40km de distância, uma barreira bem possível de ultrapassar, ainda que com as nossas vidas itinerantes não fosse fácil. Mas nunca passei mais de um mês sem a ver.
Irá ver o mundo, alargar horizontes, arrepiar-se com o frio, aprender palavras noutra língua, maravilhar-se com novas paisagens. Sorrio com isso. Poderá sentir-se triste, doente, não gostar, precisar de nós e estaremos longe, não a poderei proteger, fazer-lhe comida, levar-lhe de quando em quando as coisas que gosta. Não só entristeço com isso, como fico ansiosa. Chego a sentir saudade em antecipação, é como se já sentisse saudades hoje, no dia em que parte.
É que ela é toda sol, ainda que com uma pontinha de embirração matinal que enuncia o seu bocadinho de mau feitio, além de alguma intolerância para com mézinhas e rezas. Espero que esse seu sol interior a possa acompanhar e brilhar lá nos quase menos 20 graus.
~CC~