domingo, 26 de maio de 2019

Desalinhados


As coisas estão de tal maneira que nos sentimos isolados se não tivermos um life style. Quase metade das prateleiras das livrarias já são dedicadas ao assunto, seja em modo de regime alimentar, de exercício físico, de cura para a alma ou de terapia comportamental. Foi por isso que quando em deparei com um livro de capa bonita intitulado "Faz o que te apetece", pensei que se tratava de um manual de auto ajuda, mas afinal é apenas o livro da Bimby. Afinal ter Bimby é um estilo de vida...

Gosto muito do Desafinado de João Gilberto e Tom Jobim e se pudesse pedia-lhes agora um hino para os desalinhados desta vida, para gente como eu que não tem life style, vai alinhando ali e acolá, conforme a geometria variável dos dias, dos sentidos, dos apetites. Ou será que não ter alinhamento é por si só já um estilo e posso elaborar um manual de auto ajuda? 

Quero acreditar que não, que os desalinhados não compram manuais de nada, deixem-nos estar assim, ao sabor do vento, de cada estação, do que vamos captando com as nossas antenas interiores, gigantescos motores de desalinhar.

~CC~


6 comentários:

  1. Não tenho Bimby (sou até um tanto antibimby) e livros de autoajuda não estão nas minhas escolhas. Acho que estou num desalinho total. :)

    ResponderEliminar
  2. Ora aí está, descobri agora mesmo que também sou desalinhada. Eu que desconhecia a existência de um lifestyle assim quase obrigatório. Portanto, estamos nessa. Vamos indo e alinhando onde nos apetece. Também não tenho bimby e só li um bocado de um livro de autoajuda para saber como era. Concluí que são os outros livros a ajudar-me, distraem e são prazer imediato. E o resto logo se vê.

    ResponderEliminar
  3. Já em 2010 sentia-se desalinhada, lembra-se? Eu registei.
    Uma boa noite.

    "Esqueço-me com frequência que sou uma mulher, isto acontece-me desde sempre, mas agora cada vez mais. Na adolescência quis ser árvore, pássaro ou flor porque tinha vergonha de pertencer à humanidade, mas isso passou-me, embora às vezes ainda me envergonhe. Ficou contudo, esta despreocupação quanto ao género que era o meu, ou seja, não adquiri algumas competências que se calhar me fizeram falta.

    Toda a vida ouvi reparos em relação ao modo de sentar, aos abraços desmedidos dado a rapazes ou a homens que podiam ser objecto de outras interpretações, ao meu modo de me situar no espaço, de caminhar, de me aproximar. De vez em quando, nos momentos mais improváveis, quando ando a correr de um lado para o outro, dou com uns olhos de homem fixos em mim. O meu primeiro pensamento costuma ser que há algo errado comigo, que devo ter o casaco vestido ao contrário (o que acontece com frequência), que deve ser alguém que não estou a reconhecer (estou sempre a encontrar gente em todo o lado) , ou que é uma pessoa que deve precisar de ajuda para alguma coisa (defeito profissional). Nunca penso que aquele homem está a olhar para mim como um homem olha para uma mulher, que estou a ser olhada como mulher, e não estou a falar daqueles olhares marialvas centrados em partes do corpo salientes, mas sim naquele olhar que é todo ele um interesse centrado em nós, um olhar que também nos olha para os olhos. Com a idade isso piorou bastante, porque mesmo sem querer temos esta tendência de pensar que as moças novas são inevitavelmente giras e atraentes e que há tantas e tantas por aí que não falta para onde olhar.

    Ando sempre numa correria tão grande que acho que me incorporo na paisagem, a maior parte das vezes sinto-me vento ligeiro.
    ~CC~"

    ResponderEliminar
  4. enm algumas coisas também me desalinho, mas porque faço questão de o fazer. :)

    ResponderEliminar
  5. Luísa, bom não posso falar num clube de desalinhados pois essa seria uma forma de alinhar:) Mas estamos juntas!
    Bea, quem é que nunca pegou num livro desses para ver como era? Eu às vezes ainda o faço nas livrarias, para perceber o que se anda para aí a vender...quando estive doente deram-me um, mas já o despachei para outras mãos.
    Joaquim, estou com a sensação que já me conhece melhor do que eu a mim própria, é o que dá ter um blogue e escrever o que me apetece.
    Laura, eu acho que nem faço questão, a coisa sai assim, mas percebo o que diz.
    Alexandra, uma forte identidade como a sua só podia ser em si mesmo um desalinho:)
    ~CC~

    ResponderEliminar

Passagens