O miúdo contou detalhadamente como escondia debaixo do casaco os pedaços de cartão que nas aulas de EVT o professor deitava para o lixo normal e os levava para os deitar no contentor certo. Mas desculpando o professor que não fazia por mal, só não pensava bem no que estava a fazer.
Contou como os colegas o achavam maluco, dizendo-lhe que as funcionárias, no final do dia, juntavam no mesmo recipiente os diferentes resíduos provenientes dos contentores separados que havia na escola, enquanto dizia, estranhamente calmo, que não se podia fazer as coisas a fingir, tinham que ser a sério.
Apontou com clareza coisas muito boas e outras menos boas, sentidas por ele, mas também ditas pela voz dos colegas que tinha estado a ouvir antes de os representar. Disse tudo sem usar um papel, ou um telemóvel, fazendo gestos demorados e com voz clara. E quando eu já tendia para o categorizar como um sobredotado, quiçá um bocadinho autista, recusou-se a responder a uma pergunta (que não fui eu a fazer) sobre um comportamento dos colegas pois gostava muito deles e estava ali a representá-los, não para os criticar fosse pelo que fosse. Agradeci-lhe tanto, pela enorme esperança que me deu.
~CC~
E eu agradeço-lhe por nos vir aqui contar essa história. Sim, eu acredito que há esperança.
ResponderEliminarEspecialmente porque são miúdos destes que fazem história e as histórias propagam-se por quem as conta. Outra vez, obrigada.
Um beijinho, querida CC.
:-)
Isso Susana, é preciso propagar a esperança em dias de desespero.
EliminarEu é que agradeço por vir de visita.
Beijinho e bom fds
~CC~
É neles que mora o futuro, se têm essa clarividência e força de carácter, então, é que ele existe. Histórias assim, verdadeiras ou figuradas, fazem-nos acreditar. Obrigada, CC.
ResponderEliminarBom dia:)
Verdadeiras Bea, só conto histórias dessas, mesmo que às vezes com algumas capas ou disfarces.
EliminarBom fds
~CC~
1. Estudei na Escola Francisco Arruda que foi um projeto educativo do professor e pedagogo Calvet de Magalhães. Esta escola era um mimo. Ao sábado de manhã tinhamos saraus de ginástica e actividades da Mocidade Portuguesa intercalados com sessões de cinema e espectáculos de música clássica - foi aí que fiquei a conhecer os instrumentos todos de uma orquestra. Por vezes a escola aparecia com sinais de vandalismo. Tendo sido apanhado o responsável, foi levado à presença do director que lhe perguntou porque fazia aquilo ao que o rapaz respondeu que era porque tinha pena de não poder também andar na escola como os outros meninos. O director tratou de o matricular e esse rapaz (cigano) passou a ser o guardião da instituição nos dois anos que por lá passei, como não vi igual.
ResponderEliminar2. Tenho dois blogs que acompanho religiosamente. Um é o seu. A sua leitura teve um papel significante na imagem que de si criei e à qual me habituei numa espécie de empatia virtual. Não me refiro à forma como escreve, mas ao que escreve.
Acho que se a conhecesse pessoalmente, não a conhecia tão bem, tão aprofundadamente, tão ao âmago. A sua escrita revela-a enquanto pessoa, não se esconde.
E compreendi tudo isso uma hora depois de a ler.
Que giro Joaquim, eu que sempre fui acusada de ser misteriosa, estranha, reservada. Na verdade vamos vestindo e despindo peles, a última (reservada) tenho vindo a perder, aos bocadinhos.
Eliminar~CC~
“Hope is the thing with feathers
ResponderEliminarThat perches in the soul
And sings the tune without the words
And never stops at all.”
― Emily Dickinson
(costumo criticar quem critica crianças sem perceber que são adultos quem as conduz, quantas vezes com maus estímulos e, apesar disso, são elas, as crianças, quem supera os supostos "educadores")
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