sexta-feira, 29 de maio de 2020

Marcas



Da última vez que tirei o passaporte, os indicadores já tinham deixado de marcar a sua impressão digital, não houve meio nem máquina capaz. Lá ficaram os polegares. Agora, depois de tanto álcool gel, suponho que já nenhum dedo servirá. Parece-me um gesto cada vez mais absurdo e, no entanto ,repito-o como se já o tivesse mecanizado para sempre. 

E quando vejo alguém já não me ocorre logo um abraço ou um beijo, fico parada, meio inerte, sem saber o que fazer, não me apetece dar-lhe um cotovelo. 

De resto, sempre que posso, absorvo o sol numa esplanada, acompanhado de um abatanado. O medo abandonou-me, julgo que por cansaço, não se aguenta viver com ele por muito tempo. Mas sobraram outras coisas às quais procuro dar nome.

~CC~

8 comentários:

  1. Depois de perder as suas impressões e o medo que a prendiam como garras a um passado tão duro, apetece-me dizer que já cortou as amarras deste navio, e que agora está pronta para aceitar o desafio de rumar ao sol e ao futuro.
    :)

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Estou sempre pronta para o futuro Joaquim pois sou dona de uma cabeça cheia de sonhos.
      ~CC~

      Eliminar
  2. O álcool gel e as máscaras vieram para ficar
    .
    Bom fim de semana
    Cuide-se

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Acha Ricardo?! Não lhes dou mais de um mês de vida, excepção aos transportes público, aviões e hospitais...mas talvez me engane.
      ~CC~

      Eliminar
  3. Apesar do tom lasso e até desiludido do post, digo-lhe que sorri com a afirmação, "não me apetece dar-lhe um cotovelo". Eu devia estar no mesmo barco. Mas, efectivamente, não estou. Jamais me lembrarei de dar um cotovelo e continuo a espetar um beijo na cara das pessoas que já não vejo há que tempos. Felizmente, vejo poucas. Talvez porque o medo não chegou a apanhar-me, antes que pense, já está. E portanto sou uma perigosa, um perigo público, talvez devesse andar com açaime, já que a máscara só uso nos tais locais públicos a que vou uma vez por semana e é quando é. Na verdade, agora que penso nisso, um açaime seria bem melhor, facilitava-me a respiração, deixava-me falar e impedia-me os beijos destemidos que talvez não soem bem em quem os recebe. Paciência.
    Beba o seu abatanado em paz e não pense demais no covid, ele não merece.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Como não pensar Bea, toda a nossa vida está "atravessada" por ele. Não piso no meu gabinete da escola desde o dia 7 de março...

      Eliminar
  4. Se não reforço a dose de creme de mãos, figo com elas numa verdadeira desgraça de tanto as ensaboar ou de tanto as alcoolizar. :)

    ResponderEliminar
  5. E se a Covid gosta do creme?!
    Estou a brincar Luísa...também ponho de quando em quando.
    ~CC~

    ResponderEliminar

Passagens