Hoje os meus olhos encheram-se de lágrimas pela primeira vez desde que tudo isto começou. Foi um momento breve, só tive que tirar os óculos e desligar um pouco a câmara. Muitas emoções neste final tão atribulado de ano lectivo, um final que nem tem fim à vista.
Já ontem as coisas tinham sido difíceis, uma das estudantes que mais prezo chorou e disse coisas detestáveis numa tutoria em grupo, o que me custou foi que foram sobretudo acusações aos colegas, ainda mais do que aos professores. Imaginem vocês que a Ana Gomes de repente começa a falar como o André Ventura. Eu bem tentava desmontar-lhe o discurso mas acho que não me ouvia, só se ouvia a ela própria.
Já a outros só me apetece tirar-lhes o chapéu, como é possível contornar os obstáculos de forma tão diferente, e isto é válido para docentes e para estudantes. Aquela miúda valente que sabendo que não podia voltar ao hospital ficou ligada a um adolescente internado na pediatria que não sabe ler nem escrever e apoiou-o durante todo este tempo. As que se fotografaram em mil poses com livros e criaram um instagram de promoção da leitura e da escrita. Os que telefonam para casa dos idosos para os ouvir contar histórias. A que criou uma visita virtual para um museu que não a tinha. Não esquecerei. É bonito. Mas nem sempre é bonito, às vezes dói e é feio.
Quando as emoções se tornam chumbo e a casa parece desabar sobre mim, saio.
E às vezes, como hoje, encontro a esperança ao virar da esquina. Eram duas miúdas e um miúdo de 13 ou 14 anos, máscaras colocadas e uma bola que iam passando uns aos outros, entre sorrisos. Irão procurar um jardim, uma sombra, continuarão a jogar à bola, talvez tirem por um bocadinho as máscaras, mas com o cuidado que as traziam não irão facilitar. Que bonitos. Se o céu não estivesse azul de certeza que teria ficado assim para contornar as suas silhuetas.
~CC~
Nesta vida de contrastes existe sempre o bom e o menos bom. Se calhar também o mau e o muito bom.
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Saudações poéticas
Bom fim de semana.
É verdade, mas não nos podemos habituar à presença do menos bom, aceitá-lo é também deixar de lutar, baixar os braços. Mas é cansativo, às vezes muito...
Eliminar~CC~
Há efeitos da pandemia que não são visíveis à primeira, mas quando se desvendam, pesam-nos. Ainda bem que os miúdos das máscaras e da bola salvaram o dia. :)
ResponderEliminarMuitos efeitos irão perdurar ainda. Por exemplo, tendo perdido muito mais o medo, hoje ganhei-o ao ler uma crónica no expresso sobre doentes em reabilitação, impressionante, até uma enfermeira de 39 anos esteve um mês nos intensivos. Agora que já anda tudo meio maluco, estas coisas deviam ser mais divulgadas.
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Por vezes penso que as coisas más nos fazem estar mais atentos aos pequenos bens como o de a CC ter visto os três garotos de máscara. Que talvez a atenção das pequenas coisas seja mais premente em quem leva com as outras. Parece-me.
ResponderEliminarConcordo Bea, esquecemos com frequência as pequenas coisas boas da vida.
Eliminar~CC~
Nesta época tão sensível, há sonhos insatisfeitos, angústias e sofrimentos desnorteantes, muitos rios internos para superar. Mas chorar, um dos diálogos mais íntimos que podemos ter connosco mesmos, é já uma forma de respirar melhor. E escrever, claro. Como dizia Adélia Prado: «A uns, Deus os quer doentes, a outros quer escrevendo.»
ResponderEliminarMas não há dúvida que o espírito da gentileza e do cuidado – genuíno, evidentemente - pode ser um barco que ajuda a atravessar um dia difícil.
Um beijinho, querida CC. :)
Miss Smile!!!!
ResponderEliminarQue saudades...fico aqui a saborear cada palavras sua, pois tenho a certeza que Deus, a existir, a quereria escrevendo...
Um beijinho, queria Miss Smile.
~CC~
digo...querida Miss Smile.
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