A miúda contava que quando eram simples adolescentes, ainda menores e saiam os 3 amigos, ela, um rapaz branco e um rapaz negro e a polícia os mandava parar, era sempre o miúdo negro que era revistado. Saído do bairro negro da cidade para integrar um liceu de miúdos brancos, era uma espécie de corpo estranho que a escola não absorvia.
Para mim começou logo no 9º ano quando a directora de turma me disse que ela andava com más companhias: era o tal miúdo negro. O que lhe conheci como pecado mais grave foi um canivete maior do que era suposto. Por ele foi condenado a quase um ano de trabalho comunitário. Ainda hoje são amigos.
Racismo há, sem dúvida, infiltrado em todos nós, não é um mal do outro, mas alguns legitimam-no e dão-lhe livre curso, embalados pelas vozes de uma nova direita disposta a tudo.
Mas os mais discriminados no mundo são os pobres, os pobres de qualquer cor de pele. São sem voz.
~CC~
Quando andava na escola todos queríamos ser da equipa do Paris, cabo-verdiano e parentela do outro, o músico, o Tito.
ResponderEliminarFosse andebol ou basquetebol, o tipo era exímio. Alto, espadaúdo, felino, ele é que nos escolhia. Racismo? Não fazia parte do nosso vocabulário. Ele não era "o preto", era "o boss".
Não sei se os mais pobres são os mais discriminados, mas são seguramente os mais tristes e os mais desgraçados.
Meu caro, por ser negro teve que se distinguir por uma qualidade superior, não é? Devemos sempre pensar nas coisas mais do que uma vez. De resto o que há mais por aí é gente racista a dizer que não o é. Não quer dizer obviamente que seja o seu caso. É que ninguém referiu mas o Jorge Floyd era um negro pobre, ou seja quando essas categorias se acumulam as coisas são ainda mais complexas.
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CC, diz-me que por ser negro teve que se distinguir por uma qualidade superior e que devemos sempre pensar nas coisas mais do que uma vez. Pensando então nesses tempos que já vão há mais de quarenta anos o que lhe poderei dizer mais?
EliminarOlhe, que funcionávamos em grupo sem atender às individualidades, se ele nos desportos de mão era o maior, no futebol era sofrível, quando ganhávamos misturávamos os nossos suores na celebração da vitória, e era uma alegria, que copiei por ele e ele copiou por mim à sucapa de professores, que quando um cigano me tentou roubar a bicicleta, ele ajudou-me a manter a posse, que nas férias, em minha casa ou na de qualquer outro do grupo, depois de uma tarde a jogarmos o monopólio lanchávamos todos os quatro em saudável convívio. E era assim, sem grandes pensamentos nem razões de porquês.
Caro Joaquim, não o acusei de nada, apenas disse que o racismo veste vários rostos, uns mais duros e outros mais soft...e que sim, uma pessoa que nasce pobre e/ou pertença a uma minoria tem que se esforçar o dobro de todos os outros para ter o mesmo. Isto não é apenas o meu caso, a minha experiência ou a sua, isto é mais do que o nosso mundo em particular. O racismo existe e está bem vivo, não o ver é também abdicar de lutar contra ele. Eu até gostava mais de um slogan mais abrangente em que "todas as vidas" contassem mas percebo porque o escrevem assim.
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Li e... entrei em reflexão........
ResponderEliminar.
Um feliz domingo
Cumprimentos
Ricardo, reflectir é bom, por mais que nos possa atrapalhar um domingo.
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A pobreza é uma discriminação atroz. Com ela por companhia quase tudo o resto ou falha ou mingua e quase sempre o crescimento mental fica aquém do desejável. Quem é pobre tem de lutar mais e lutar melhor para conseguir senão o que quer, o que pode. Mas ser pobre e negro é ainda pior; a subida na escala social, a chamada melhoria de vida, exige a quem é apenas um cidadão comum, perseverança e força de caráceter incomuns. Quem tiver um dom qualquer, seja génio ou excepção notória, singra. A qualidade excepcional dá nas vistas e hoje, felizmente, existem formas de a apadrinhar e promover. Mas a maioria da pobreza é constituída por sujeitos comuns. E quantos ficam aquém da comunidade que lhes é devida.
ResponderEliminarConcordo com quase tudo o que diz, quanto à "qualidade excepcional" não passar despercebida, tenho muitas dúvidas, acho que infelizmente passa muitas vezes, há miúdos que já são vaticinados ao insucesso por serem de origem humilde e que mesmo que tenham um dom para alguma coisa, ninguém o valoriza.
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A verdade grita por aqui, e sabe-me muito bem o som estridente que não se detém mesmo que se diga que não é ético, nem apropriado, falar das coisas que vivem escondidas com o rabo de fora.
ResponderEliminarBoa tarde, CC
Noname, obrigada! Juntemos vozes.
ResponderEliminar~CC~