Faço a cada tempo novas aprendizagens, patamares que tenho que conquistar do andarilhar pelo mundo. Há que explorar o mesmo lugar de outras maneiras, quando se está sozinho a paisagem parece outra, aparecem outros receios mas também outras cores.
Ainda tenho receio é certo. Ainda ecoam a cada canto coisas e sombras antigas, muitas memórias. Procuro limpar os caminhos, tirar as ervas, abrir outros percursos mesmo quando eles se têm obrigatoriamente que se fazer nos mesmos espaços.
Não podemos prender ninguém na teia do nosso afecto, é deixar ir quem precisa de ir, libertar é também libertarmo-nos. Até com os filhos é assim, quem os ama muito, sabe como é difícil libertá-los do nosso amor para se construírem como seres autónomos e plenos. A eles, contudo, estaremos sempre ligados, mesmo os que se zangaram, viraram costas ou se ignoram, sabem que eles estão lá em permanência. Aos nossos parceiros e amigos não, a eles só nos prendem os laços do encanto, da partilha, da comunhão. São os mais ténues, perecíveis e incertos. Se perduram, é de uma beleza imensa. Se morrem, é triste. Mas não os podemos forçar, não podemos insistir, não podemos existir neles sem reciprocidade. Cada amigo ou amiga que fica para trás é um pequeno luto, cada amor que acaba é um grande luto, e de tudo isso a vida se alimenta, constrói e prossegue. Haja vida, é essa a minha grande luta agora.
Hoje combinei com uma amiga festejamos para o ano o solstício de Verão como ele merece ser festejado, em harmonia com a natureza, vendo o sol descer e erguer-se. Pode não acontecer, mas são estes pequenos nadas que nos ligam uns aos outros, o inverso do luto é o nascimento, a maravilha é podermos ver nascer, alimentar, criar.
~CC~
Ora aí está!
ResponderEliminarE é por este espírito e esta escrita que gosto tanto de ir até á "A Rua da India".
Bem-haja CC e bom fim-de-semana!
PS - Gostei da ideia. Acho que para ao ano também vou comemorar o solstício.
Um abraço,
Sandra Martins
Obrigada Sandra, então vamos...prometo lançar aqui o desafio!
EliminarNa verdade não tenho com quem comemorar o solstício de verão; que ele bem o merece. Poderei talvez prometer a mim mesma um dia bem passado na praia se o tempo o permita. Ou andar por Lisboa ao Deus dará que é como quem diz, a fazer o que sempre faço, sem pressas ou deveres. Está prometido; no meu já curto "para sempre" (talvez tenha que o escrever ou esqueço a promessa que isto de ter uma certa idade tem seus desmandos).
ResponderEliminarNão sou exemplo para ninguém, tanto mais que eu mesma advogo o realmente em detrimento do imaginário. Porém, se não fora esse véu de fantasia, talvez me acontecesse como a Régio no poema "Colegial" e zás(!), acontecia-me uma desgraça, "já teria morrido/ ou já teria fugido/ ou já teria bebido/ algum tinteiro de tinta" (eu bebia lixívia que a tinta está difícil de encontrar). Subjacente ao meu viver há sempre alguém que invento e me existe, que preciso inventar para sobreviver e alegrar; que me gosta sempre e vai comigo onde eu for. A bem falar, nem sei precisar se essa pessoa me existe mais que as de carne e osso. Ou, pelo menos, tanto como elas. Tem a suprema qualidade de me acompanhar sempre. É mais que uma amizade ou um amor, é raro que nos zanguemos, mas também acontece. Suponho que, se a memória não colapsar de todo, me fará companhia até à morte. Porém, se Elisabeth Strout inventou uma mãe, que motivo há para que euzinha não invente alguém - não uma mãe que a que tive é inultrapassável -, um ser tão efémero quanto eu, que me acompanha e vai respondendo como pode às minhas perplexidades, que me ouve os pormenores do dia-a-dia e assiste às minhas tristezas como os anjos de Wim Wenders que contemplo em cada vez com uns pontos de exclamação a enfeitar.
Bom dia, CC. E que o fim de semana de calor lhe sorria. Vamos resguardar-nos, né?
Gostava de ter esse poder Bea, de sentir alguém comigo mesmo não estando, compreendo muito bem o que diz, mas não consigo. Quanto ao solstício estou aqui a pensar que para o ano lanço o desafio e venha quem vier por bem. Bom fds
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