Não sei como absorvi tanta cultura judaico-cristã sem ter tido uma educação familiar consonante. A verdade é que o misticismo do meu pai foi talvez o factor preponderante antes de eu ter conseguido desconstruí-lo. Passei grande parte da minha vida a tentar ser o que comumente se chama "boa pessoa". Isso incluía grandes doses de generosidade, compreensão e compaixão. Andei perto do "dar a outra face". Custava-me compreender que alguém pudesse não gostar de mim sem nada ter eu feito que o justificasse. Demorei até conseguir perceber bem o verbo reciprocidade e mais ainda a exigir do outro o que eu sabia que dava. Enjoei de mim própria como pessoa boazinha. Só me arrependo disso não ter acontecido mais cedo.
Esta semana tive a prova da minha cura.
No banco, uma fila enorme, muito tempo de espera. Ajudei uma série de pessoas mais idosas, é incrível como não há ninguém a apoiá-los, assim como duas cadeiras, apenas duas. Sentei uma senhora que coxeava numa cadeira do pessoal do guichet, já que havia cinco e apenas dois estavam a funcionar. Tenho gosto nisso. Contudo, um dos senhores, também já idoso, culpava os emigrantes da longa espera, entupiam tudo, até os bancos. Não percebi a relação, até porque havia apenas duas mulheres brasileiras que tinham chegado depois dele. A sua retórica, curta e primária, era a que adivinham e rapidamente passou do banco para a saúde e para a educação, segundo ele, não deviam ter direito a nada. Fiz um esforço para não lhe responder. Pouco tempo depois veio perguntar-me qual era a minha senha, por acaso um número antes da dele. Perguntou-me se não me importava que fosse atendido antes de mim pois tinha muita pressa. Importo-me sim, disse eu, e não dei mais nenhuma explicação. Mostrou-me o cartão multibanco que estava danificado e seria simples, eu disse-lhe que o meu assunto era exactamente o mesmo (e era), por isso também seria simples. Chamem-me má pessoa se quiserem.
~CC~
Bolas, tenho que começar a ser bonzinho.
ResponderEliminarPor mim, tinha-o mandado imigrar para França. Temos por lá uns bons apoiantes de imigrantes portugueses (claro que antes lhe tinha roubado a senha e ia para último).
Fartinho desses discursos, fartinho de haver portugueses de primeira e de segunda...que triste
Ah, ah...realmente não fui tão longe. Logo nós, um povo que saiu para tantas partes partes do mundo...
EliminarHá alturas em que não temos vontade de ceder.
ResponderEliminarBom Natal, que lhe calhe a parte de Felicidade a que tem direito.
Obrigada! É preciso ir atrás dela...agarrá-la, nem que seja por momentos, para nos inebriarmos um pouco.
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