Parece que a terra anda a cruzar-se com chuvas de meteoros que ora provêm da Delta Aquáridas, ora da constelação de Perseus, originando céus estrelados e belos, por vezes misteriosos. A isso se juntam as poeiras do Deserto do Saara que antes não chegavam cá com esta facilidade. As temperaturas sobem até nos asfixiar mas nem sempre desembocam em noites amenas. O vento não para.
Estou a buscar uma explicação cósmica para os últimos Verões assombrados que tenho tido. Quando nos falta a razão, quando o coração sucumbe, é melhor olhar para as estrelas, conversar com elas. Invariavelmente quase todos os Verões da minha última relação de amor eram difíceis, estava com alguém que não gostava de férias, de passear, de sair. Foram poucos os Verões felizes, num ou noutro conseguimos, mas não são muitas as memórias boas, quando as crianças eram pequenas eu esforçava-me imenso por elas. Como não podia deixar de ser terminou num Verão, na sequência da discussão mais idiota que tive com alguém. Aquele foi um Verão muito triste, abrupto, tirei tudo de uma casa, coisas de anos e anos e nunca as consegui arrumar, metade foi fora. O perfume das goiabas daquele quintal perdurou muito tempo na minha memória, até se desvanecer e deixar por completo de doer.
No Verão passado, com o agudizar da doença da minha mãe, caminhei sobre um fio muito fino, tentando equilibrar-me. Foi muitas vezes duro e solitário cuidar e estar com ela. Perdi-a no fim do Verão, na entrada do Outono. Agora a minha amiga, quase uma irmã, definha de dia para dia, sabemos todos que a vamos perder e ela também sabe, está consciente e triste. Talvez alguma estrela me tenha dito que este ano eu não devia ir para longe, devia evitar aeroportos e viagens, como tal reparti as férias por vários bocadinhos de ir e vir.
Sou outra vez equilibrista no fio de arame. Mas de tanto praticar a arte, creio que já a domino e que não irei cair. Só preciso às vezes de parar tudo, desligar o computador, a televisão, a rotina. Preciso de noites de ver estrelas e de manhãs em cafés desconhecidos, de pequenos almoços lentos, de almoços de conversa longa, de praia mar e de praia rio e de livros com cheiro de papel, de abraços de pessoas boas.
Perdoem-me assim se não vos visitar nas vossas ruas virtuais e se esta rua ficar um pouco ao abandono, deixo-a para que os gatos possam vadiar. Tenho receio de usar a palavra férias, de tanto que me massacrei com ela ou de tanto a ter idealizado, já nem a saboreio como antes. Digo-vos antes que é tempo de Perseidas e afins.
~CC~
Como a entendo. Como aprecio as suas crónicas. Sou capaz de sentir todas essas etapas da sua vida de tal modo estão bem descritas.
ResponderEliminarUm abraço.
Eu diria em várias páginas o que a CC disse num texto curto para o tanto que contou; e não o diria com tanta propriedade e poesia. Ver os amigos definharem e sofrerem conscientes de tudo, é doloroso. Há as vezes em que a vida se nos impõe e aquelas em que somos nós a decidir. Situações diferentes, mas ambas exigem rupturas e recomeços.
ResponderEliminarQue o tempo de Delta Aquáridas e Perseidas lhe seja leve e um dia volte a esta sua casa, ora abandonada aos gatos.
Um abracinho doce
Desculpem a ausência de resposta. Agradeço terem vindo, assim como as vossas palavras.
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