Vou ser alentejana por uns dias, se é que este conceito existe. Não para um Alentejo de charme, vulgo costa alentejana (como não gostar dela, apesar de tão ser tão capa de revista) mas para um Alentejo interior, sem nenhum hotel com mais de três estrelas ou quinta de turismo rural, ou seja, um lugar pouco ou nada turístico e sem motivos aparentes de visita, daqueles que fica fora do roteiro, mesmo dos que procuram sobretudo sossego. Vou em trabalho e por causa dele sei que vou conhecer muita gente que lá vive, de várias faixas etárias. É o que levo de melhor desta minha passagem pelo mundo, a possibilidade que tenho tido de conhecer tantas histórias de vida, de me embrenhar em tantas lugares diferentes, de aprender tantas coisas. Sempre quis ir morar para o Alentejo, é lá que me vejo a conseguir paz, tempo, a envelhecer. Curiosamente conheci recentemente uma alentejana (do interior) que me disse que a melhor coisa que o Alentejo tem é a estrada para Lisboa, fiquei estarrecida, mas compreendi, nem sempre pertencemos ao lugar onde nascemos, a vontade de sair de lá é por vezes a coisa mais forte. Mas fez-me também duvidar um bocadinho do meu sonho, fiquei com aquele receio que todos temos de nos aproximarmos dos nossos sonhos e à medida que o fazemos eles ficarem mais e mais pequenos. Deve ser por isso que há gente que não sonha nada, não quer nada, assim nunca se desilude.
E vou ter um amor alentejano, mesmo que ele seja alentejano apenas por uns dias, se é que este conceito existe.
~CC~
Um dia, Gonçalo Cadilhe escreveu isto sobre o deserto:
ResponderEliminar"Não recomendo o deserto ao viajante que já tem o deserto dentro de si. Não há pior encontro. Para sobreviver emocionalmente ao deserto é necessário um grande cantil emocional de interesses, afectos, curiosidades e planos de futuro. Se vamos frágeis e vazios de significado para esse encontro, podemos não aguentar."
Recomendo o mesmo para quem vai para o Alentejo, eu que SOU de lá e vim embora.