quarta-feira, 13 de novembro de 2019

Indignações



São artistas amadores e queriam dizer poemas em público em homenagem à autora, espectáculo gratuito é claro. Meia dúzia de jovens a querer ou pelo menos convencidos a dizer poesia é uma bênção. Mas não puderam, ou melhor, para o fazer teriam que pagar uma quantia avultada à família da autora. Percebo que a família cuide de homenagear os seus mortos, não deixando que tudo possa ter o nome deles e velando por alguma qualidade, mas que se agarre assim à autoria, cobrando-a, é uma coisa que me custa a aceitar. Mais ainda quando é uma família que percebemos que não precisa desse dinheiro. 

Jovens a dizer poesia para mim estariam sempre autorizados, como não se percebe que a luta passa por não a deixar morrer, sobretudo a de qualidade. Imagino-a viva, contente no meio deles, ela que queria a poesia na rua, é isso que mais dói. 

~CC~

11 comentários:

  1. CC, julgo que se está a falar de direitos de autor... E presumo que continuam a existir preços diferentes consoante as características do evento, sendo o pagamento uma delas (mais baixo para espectáculos gratuitos).

    Entendo o que queres dizer com essa questão de autorizar sem pagar, os artistas jovens amadores; mas também entendo a posição da família em não querer abrir um precedente que poderia trazer dificuldades de gerir no futuro por ser fácil de incorrer em situações de injustiça entre grupos.

    (De qualquer modo, não conheço pormenores do que se pretendia fazer...)

    "Mais ainda quando é uma família que percebemos que não precisa desse dinheiro." - Para mim não é argumento que se deva utilizar, como já tenho dito em situações semelhantes, pois entendo que se deve salvaguardar distância sobre a forma como cada um gere a sua vida, o seu património, ou o que se presume que seja a sua vida. (Também não me reveria e não gostaria (como não gosto) de observações acerca da minha e de como faço a gestão do meu dinheiro).

    E não foi / é possível aos jovens arranjar uma solução criativa para levar a cabo a sessão?

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Isabel, eu uso nisto uma regra simples que uso também para a minha vida: o evento é pago por quem assiste ou participa, então eu recebo, o evento é gratuito e serve uma comunidade, eu vou sem receber, desde que perceba o genuíno interesse da iniciativa. O princípio "cego" de receber independentemente do que quer que seja não me parece a melhor maneira de gerir um espólio e sim, ainda mais quando não estão em causa, razões de sobrevivência de uma família ou de um projecto associado. Conheço muitos casos em que os autores, ainda vivos, ponderam caso a caso e em muitos deles optam por não receber.

      No mais, a crítica é livre e faço-a quando a acho justa pois não estou a criticar a vida de ninguém mas sim a gestão de um património literário, ou seja, trata-se da "coisa pública" e não da privada.

      Eliminar
    2. A proximidade que tive durante largo tempo a lidar com questões aqui referidas, leva-me a accionar mais cuidado no que respeita a património cultural/autores/famílias de autores e artistas/gestão do legado / compromissos, etc., e a ter presente que há coisas que se passam nas famílias dos autores que o povo desconhece.

      Por diversos motivos, é mais comum haver essa avaliação caso a caso quando o autor é vivo.

      De acordo quanto à crítica ser livre, CC, daí também eu ter opinado ;)

      Eliminar
    3. Isabel, acho que reconhecemos isso uma à outra, às vezes discordamos mas sem agressões inúteis...e isso é bom. De facto não sou muito sensível a essa questão das famílias, há, da parte de algumas, um enorme aproveitamento de alguém que, por um acaso nasceu no seu seio. Mas também já conheci casos de enorme generosidade.
      ~CC~

      Eliminar
  2. Junto a minha indignação à sua, ~CC~.
    E se é quem eu penso, é inadmissível, pois a Poeta em questão achava que a cultura era a base de tudo (e é!) e bateu-se muito para que ela chegasse a todos.
    E depois criticam os jovens...
    Tristeza.
    🍁

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. É assim Maria, a poesia afinal não pode simplesmente descer à rua e infiltrar-se por aí, em todos nós.
      ~CC~

      Eliminar
  3. Bom, eu nem sabia que, para se dizer poesia de um autor há que pedir autorização à família (pagar). Julgava eu que recitar ou ler em público os versos de alguém fosse forma de enaltecê-lo e divulgá-lo. Ignorância.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Bea, há casos e casos, também não sou especialista na matéria, mas já fui muito surpreendida. Até para passar música em público, mesmo num café, pode entrar alguém ligado ao autor (imagine que coloca um CD a correr) e apresentar queixa.
      ~CC~

      Eliminar
    2. Bolas, ainda bem que eu não sabia isso quando dirigi um grupo de teatro:). As canções que a gente lá passou.

      Eliminar
  4. Pagar por algo amador gratuito e não gravado?
    Estupidamente absurdo

    ResponderEliminar
  5. Caro Anónimo das 12h51.
    Num tempo em que há muita gente ligada à música a libertá-la nas redes sociais mesmo antes desta ter publicação pelas vias mais formais, reconhecendo que assim pode chegar a um público mais alargado e que quem gosta irá provavelmente comprar. E muita gente que publicou livros on-line antes da versão impressa.

    ResponderEliminar

Passagens