Às vezes doem-me bocados de mim, uma veia que fica a latejar durante dias, um ombro que parece querer sair do corpo, uma pontada no lado direito que alterna com o lado esquerdo por baixo das costelas. Os ouvidos não suportam gotas de água nem ruído excessivo, tornaram-se mais sensíveis, assim como os olhos que mal o sol desparece teimam em ficar com sombras.
Luto contra o meu corpo para não sucumbir às maleitas que tentam travar-me uma vida em pleno. Mas às vezes acho que não é só com o corpo que travo a maior luta mas também com as dores interiores, mágoas que ficaram e que sobraram das relações, sejam de amor ou amizade, todas elas, com destaque para as mais recentes. Não gosto quando essas mágoas se aprofundam e se tornam rancor, uma espécie de ódio pequenino que é um veneno lento, conheço-lhe o sabor com que me amarga a boca.
Quando me apercebo que o deve-haver está a ganhar espaço, penso em cortar com ele radicalmente, ligando, por exemplo, a um amigo/a que quase nunca liga ou em marcar um café com outro/a que nunca manifestou saudades minhas, não me ligou a saber como tinha sido o resultado de um exame médico ou nada disse no longo Inverno. Ir comentar a um blogue que nunca me visitou ou não visita ninguém. Levar uma prenda a quem não as dá, mesmo que seja uma pequena graça. Creio que isto assenta, talvez na ideia falsa de que a mágoa interior não tem a força do sismo que tudo abala mas a persistência do pequeno sismo que insistentemente vai abalando e destruindo. Nem sequer é generosidade, muito menos o voltar da outra face a quem nos dá a bofetada. É em prol de mim própria. Trata-se de tirar cinco minutos para ser árvore recebendo o sol e fazendo a fotossíntese.
~CC~