domingo, 20 de setembro de 2020

Queria um país sem fome

 

Diria que a maior parte são emigrantes que aqui não encontraram trabalho ou que o encontraram sazonal e/ou mal pago. Mas há também idosos, sem abrigo, mulheres com filhos pequenos e que os trazem com elas. Poucos jovens, mas ainda assim alguns, podem ser mesmo universitários que uma vez deslocados vivem com recursos muito limitados.

Não percebo a organização da fila que me parece caótica nem sei como irão distribuir a comida. Mas vejo chegar o pão embalado, as saladas em sacos, a carne devidamente acondicionada...não se trata de dar restos mas sim comida em condições, muito embora provavelmente próxima do final do prazo de validade. Há várias organizações a fazer isto e até uma aplicação via TM que permite ir buscar a determinados restaurantes. Modelos alternativos à caridade, com outra dignidade. Era capaz de dar um bocado do meu tempo a uma organização destas, muito embora tenha tão pouco. Mas ao mesmo tempo tenho sempre receio de ver estas coisas por dentro, de me desiludir.

Eu também já acompanhei a minha mãe numa fila deste tipo, naquele tempo em que o nosso nome era "retornados" e íamos buscar o leite e as barras de queijo a uma organização holandesa. Ainda hoje recordo o sabor desse queijo, não era mau e alimentou-me muitas vezes. E é verdade que era triste mas mais triste era passar fome. Ninguém neste país devia passar fome pois está à vista o muito que se desperdiça. Mas temos que encontrar os modos certos para isso não acontecer e isso é, sem dúvida, mais difícil.

~CC~


5 comentários:

  1. Como faço o meu tempo até podia ocupar-me numa dessas organizações, mas em terras pequenas há menos miséria, menos desperdício e nunca dei por haver algo do género. Parece-me mais coisa de grandes aglomerados. Por cá existe um gabinete camarário que dá apoio a situações de carência devidamente identificadas, consta várias funcionários e uma técnica superior. E depois há a miséria escondida, que não enfileira nem procura o dito gabinete e quase ninguém conhece. Também não sei como se pode corrigir a assimetria entre desperdício e necessidade, mas sei que a quem precisa tudo dá jeito.

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    1. Até a "envergonhada" me parecia lá estar...mas sim, no meio rural, deve haver mais vergonha ainda.
      ~CC~

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  2. Uma triste realidade, da qual nem sempre quem vive sem sobressaltos de maior tem bem noção.

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  3. Costumo dizer, CC, que todos deviam ganhar o suficiente por ter uma vida digna. Infelizmente, mesmo quem tem emprego e se mata a trabalhar nem sempre consegue viver dignamente.
    Votos de um dia feliz! Abraço :)

    deep

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