Este é um festival que pouco tenho frequentado, não obstante ser na minha cidade. Mas desta vez fui.
Todos os filmes tinham a marca de vistoria da censura do Estado Novo e designavam-se como do Ministério da Propaganda. Os dois últimos não era narrados, não tinham som, tinham separadores com legendas, muito à imagem do cinema mudo. O que achei fabuloso era que as palavras continham uma mensagem associada ao regime, em que se enalteciam as qualidades do povo trabalhador e feliz e as imagens mostravam gente gasta, cansada, com roupas entrapadas e esquálida. É impressionante a degradação das casas, dos monumentos, das ruas, tudo mais cru e duro no preto e branco.
O último filme termina com uma mensagem sobre o bucolismo da paisagem mas o que vemos é uma velhota a sair de um casinhoto e avançar para a câmara que a vai enquadrando, terminando num zoom sobre os seus sapatos, mas estes nem são bem sapatos, são meio chinelos, estão rotos e nem sequer são um par. Ao contrário do que se vê hoje, imagens manipuladas a torto e a direito, ali são as imagens que não mentem. As palavras, essas tudo querem encobrir sem conseguir.
A música do Pedro Caldeira Cabral ajudou a ver tudo melhor.
~CC~
E ainda há quem apoie quem quer que volte algo parecido com o passado.
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