Ela escreveu: desculpa não estar próxima.
Ele disse: preciso de contacto corporal e encostou-se a mim docemente.
Mas eu já não sei bem o que é a proximidade. Já não sabia antes mas agora ainda menos.
Tenho um amigo da adolescência que passo anos sem ver. Telefona muito e passamos muito tempo ao telefone, sinto sempre que está próximo, no entanto, falta qualquer coisa. É o cheiro, o toque, saber como está agora o cabelo dele, se engordou, se continua magro, se se veste bem como vestia. Acho que precisava de o abraçar, embora a nossa relação nunca tenha sido muito efusiva desse ponto de vista. No entanto, tenho uma amiga que me abraça muito e tenho esgueirar-me de tanto contacto físico, não é por ali que me aproximo dela, outras coisas talvez.
O nascimento de duas crianças no Brasil, uma há dois anos e outra há um mês, sobrinhos netos, motivou aquela família (ele foi o meu primeiro sobrinho e como tal muito importante para mim) a criar uma aplicação que unisse os avós dos dois lados da família, uns na beira e outros no Algarve. Depois tudo se alargou, entraram tios, sobrinhos, primos...neste momento entre São Tomé, Brasil e Portugal chegam uma média de 20 mensagens por dia. Nunca quis entrar na onda até ao nascimento desta segunda criança. Sabia que não teria tempo para ver, muito menos para participar. Mas percebo agora que teria arranjado esse tempo se tivesse consciência do que estava a perder. Os vídeos, as fotos, os comentários, tudo nos permite estar muito mais próximos uns dos outros.
Depois os congressos, bem sei que é um salto tremendo, da família e dos amigos para os congressos. A maior parte deles não tem história, não faz história. Em muitos deles, criei, no entanto, contactos que ficaram. Não sei se chamo amigos aos que por aí entraram, talvez sim. Recebi um mail da organização de um congresso, mais concretamente de alguém que faz desde sempre parte da organização de um congresso. Faltei desta vez, avisei claro, mais que isso, uma colega foi por mim. O mail dela tocou-me, era simpático, mais que isso, carinhoso. Dizia que tinham sentido a minha falta. Ora não esperamos tal coisa dos organizadores dos congressos, a minha tendência sempre foi pensar naquilo como numa indústria; mecânica, organizada, funcional. Claro que aquele é um congresso que se realiza todos os anos, vamos sabendo quem vai, é como um encontro que está marcado com os que vão sempre. Esses talvez sejam, estejam próximos.
E os que passam por aqui repetidamente, os que deixam e não deixam sinal? Sempre tive uma relação muito desprendida com este blogue, no fundo sempre achei que estava aqui sozinha a escrever, para muito poucos, quase ninguém. Mais que isso: sempre li blogues sem pensar muito nas pessoas que estavam por trás deles e apenas no início desta vida tive algum interesse por saber quem eram. Mas até isso tem estado a mudar. E tenho a certeza de que não é por agora me sentir mais sozinha, nunca tive tanta gente a escrever-me, a contactar-me, a ligar-me. Tudo tem a ver com a forma como olhamos para a vida, com o que valorizamos e não valorizamos.
~CC~