Sábado à tarde fui trabalhar para lá, a grande casa do sobreiro onde, contabilizadas as horas, passo muito mais de metade da minha vida, mesmo contando as seis horas de sono. Hoje trabalharei em casa.
Todos me querem impedir de fazer isto. É verdade que às vezes estou exausta.
Mas adoro o meu trabalho, não uso a palavra amor porque amor é outra coisa. Há coisas chatas, oh se há. Mas ainda ontem saí de lá com uma sensação de satisfação. Penso em como é possível sentir isso gastando um sábado à tarde. Eram projectos que os estudantes de pós graduação estavam a fazer no terreno, todos com uma componente simultaneamente artística e educativa. Penso nisso e na forma como a satisfação advém de pensar que com eles estou a mudar alguma coisa numa realidade cinzenta. Não tenho as grandes ilusões que tinha antes sobre a mudança das coisas. Mas uma pincelada de amarelo, ali outra de azul, talvez ali um cor de laranja. Gosto cada vez menos de aulas e mais de estar com eles, de desenharmos coisas em conjunto, de falarmos lado a lado. Sonho com um ensino em que isto pudesse ser a centralidade.
Depois foi ao cinema e aí sim, senti que desperdicei tempo e era uma actividade de lazer. O filme era mediano, duas estrelinhas, esforçadamente três. Bom desempenho da actriz principal, uma portuguesa.
Não é nas categorias tradicionais: trabalho, lazer, família...que nos devemos centrar. É no prazer que cada uma delas nos traz, no bem que cada uma nos faz, uma análise que nem sempre é fácil de fazer.
Agora vou sentir o ar da manhã de domingo andando pela cidade. Sim, isso faz-me bem.
~CC~