O rapaz é engraçado, meio ruivo, olho azul, sempre muito calado. Agora tem mesmo que falar comigo pois acompanho-o no estágio. Diz-me que sente saudades de casa, embora esteja a cerca de 150 Km dela, e quando o diz, há quase uma lágrima a pairar-lhe nos olhos. Essa foi a primeira vez que esteve perto de chorar, houve outras, como quando me disse que em geral não sentia motivação para nada, muito menos para fazer um estágio. Vinte anos e tal desalento perturbam-me bastante.
Procuro invariavelmente as palavras certas para o estímulo, com a consciência que o consigo em menos de metade. Na minha família, gente que saiu do nada, de um lado um polícia, do outro uma doméstica, somos todos bastante motivados para a vida em geral e para as profissões em particular, por isso custa-me entender, mas tento o mais que consigo situar-me nesse lugar do outro, de um outro vazio e triste.
É que a mim só me assusta o tempo que não me chega para tudo o que ainda quero fazer e a hipótese, sempre em cima da mesa, da doença voltar e me impedir ainda mais.
~CC~