Gosto muito das perguntas que a Ana faz a si própria.
O que aprendeste nas férias? É essa a pergunta subjacente ao seu texto. É bom pensar com os nossos botões.
Mas a minha resposta poderia ser quase oposta à dela pois a minha vida não se faz com três rapazes em casa, por isso ela aprendeu a estar só e eu aprendi novamente a estar rodeada de gente.
E mesmo antes das férias, no primeiro período de desconfinamento, quando começamos lentamente a sair. E não foi fácil. Ao contrário de muitos, custou-me o bulício da cidade, os restaurantes e as praias cheios, as vozes, as gargalhadas, os guinchos e os gritos.
A primeira vez que reuni uma manhã inteira com dois colegas de trabalho dos quais gosto muito e há muito ultrapassaram a barreira de serem apenas uma relação de trabalho fiquei emocionalmente exausta. Precisava urgentemente de silêncio, de não ouvir vozes, de não ter que prestar atenção a alguém, no final já praticamente não conseguia responder. Foi um bálsamo chegar a casa e estar sozinha.
Estar com crianças, vê-las brincar, interagir, suportar os gritos, as gargalhadas, o ruído, tudo isso tive que reaprender. Só aí tive a plena consciência da bolha em que vivi entre Fevereiro e Junho, do efeito do teletrabalho, da modificação das relações sociais e profissionais.
Eu, nas férias, aprendi o que era estar de manhã à noite, dias e dias, sem estar sozinha. E tudo o que a relação com outros implica: cedências, atenção, negociação, entrega, descentração. Tinha, em parte, desaprendido.
~CC~