Aquela lista das dez coisas surtiu efeito. Ajudou a focar-me. Sim, muitas das coisas ali escritas estão por realizar, mas como dizem os meus conterrâneos: estão em processo.
Duas coisas bonitas aconteceram com ela. A primeira na Ria de Alvor, consolidei ali uma amizade que talvez fique para a vida e eu gosto de coisas que ficam para a vida, ajudam-me a ter os pés na terra pois eu sou um ser um bocadinho alado. A delicadeza e a generosidade emocionam-me e é assim aquele meu amigo, um menino grande, tão, mas tão diferente de mim em tudo, sobretudo nas rotinas, eu um ser diurno e ele um ser nocturno, no entanto, conseguimos respeitar-nos.
A segunda também tem a ver com amizade (dois da lista), com um amigo que tenho desde os quinze anos, é tão raro nos vermos mas nunca, nunca perdemos contacto. E de cada vez que falamos é como se fosse ontem. Temos falado muito ao telefone, ainda não fui vê-lo. O me encanta nele é a profundidade das suas conversas, com ele nunca se fala do tempo, das coisas que fazemos, das trivialidades da vida. Com ele as conversas são sempre carne viva, faz-me pensar, obriga-me a ir lá dentro. É talvez dos únicos que me consegue incomodar, desarrumar-me, mas também me arruma, também acarinha.
Afinal, a lista que parecia ser apenas de coisas leves e sítios onde ir beber alegria e alento (como preciso), revelou dentro dela uma das coisas mais preciosas a investir, manter os amigos e amigas, se possível aumentá-los ainda (mais difícil).
Há quem diga que apenas a família virá socorrer-nos em caso de aflição, não acredito nisso, estes meus amigos viriam, o segundo com mais dificuldade pois tem dois filhos ao seu cuidado, mas dele guardo a insistência para me oferecer uma peruca quando fiz quimioterapia, uma de cabelo natural, daquelas caras, dizia ele. Laços são muito mais que o sangue que corre nas veias.
~CC~