sábado, 30 de janeiro de 2021

Numerologia

 

Há três divisões na casa

Na primeira delas visto-me e durmo

Na segunda apenas trabalho

Na terceira alimento-me

Em todas elas pratico a esperança dos dias azuis, outros dias.

 

As vistas são só cinco

Na primeira a vizinha da frente, tatuada e com o seu enorme cão preto 

Na segunda a praça da cidade absurdamente dominada pelos pombos 

Na terceira a varanda abandonada e suja da vizinha do lado

Na quarta a estação dos comboios cada vez com menos ruído

Na quinta os dois castelos quando o nevoeiro permite vê-los

Em todas as janelas coloco o mar que realmente não vejo.

 

Há quatro hipóteses de comida

Carne, peixe, fruta/vegetais e sementes

Alterno-os como posso e às vezes misturo-os todos

Faço coisas maravilhosas que como sozinha, esfriam logo e perdem o sabor

E imagino refeições numerosas em mesas de madeira debaixo de uma pérgula carmim.

 

Eu sou só uma

Mas não sou bem eu

Sou um ser imaginado

Um passo mais adiante.

~CC~

9 comentários:

  1. Gostava tanto de ser assim positiva, das fraquezas fazer força.
    Caraças, o céu estava azul e agora está plúmbeo - eu bem quero ser optimista mas...
    Contudo, ainda conservo algum sentido de humor: venham de lá esses ventos fortes e essa chuva, ahahah!
    🌪️🌧️☔

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  2. E eu que inda agorinha estive a pensar no mar com muita força, gostei das vistas marítimas. E o mar da CC transforma-se com as estações do ano ou é sempre igual?

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  3. O meu mar é sempre de Primavera, entre março e junho é quando prefiro a praia e estar junto dele. E a Bea?
    O azul mais bonito mar que vi foi no Pacífico, mas aqui o da Arrábida também é muito bonito.
    ~CC~

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    1. Desconheço o mar do Inverno e até o de Outono. Já vi e senti o da Primavera adiantada. Se penso em mar, penso na minha praia com recorte de serra em fundo, na luz clara e destemida que a beija, na areia macia em cambiantes dourados, na água fresca que apetece, ondas que desmaiam de manso em bordados de espuma. Penso nas dunas de acesso onde desponta a vegetação, flores lindas de beleza incompreensível, que nem tudo é iluminado pela razão. Penso-me no calor e na frescura de tanto azul e tenho a exacta consciência de ser feliz.
      Creio bem que no meu imaginário o mar é sempre estival, CC.

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  4. Aqui, os compartimentos são mais, por isso a solidão parece maior.
    Da minha janela, vejo a vizinha que poda as roseiras do quintal, o vizinho que sai com a carrinha para os trabalhos agrícolas e um pouco da serra.
    Experimento e invento pratos.
    Bom domingo, CC. Um abraço.

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  5. Querida Deep, as casas grandes podem aprofundar a solidão sim mas também criam menos claustrofobia. Que bom partilhar a sua janela:) Hoje inventei um bolo, ficou bom mas tão pouco doce que "os meus" se o provassem protestariam.
    ~CC~

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