sexta-feira, 3 de maio de 2024

Mais do que...


 

Umas pedras retiradas da terra. Uns paus apanhados pelo campo. A infinita paciência de um artesão. Tenho a certeza de que não lhe chamavam reciclagem, era apenas a lenta sabedoria de aproveitar o que  estava ali à mão. A peça era única e mesmo assim quase sem custo. Tanta coisa deixada para trás, resta saber o que ganhámos, o que aprendemos a fazer, o que construímos. Às vezes penso no que acontecerá quando a tecnologia estourar no centro de qualquer pandemia ou efeito semelhante. O que saberá cada um fazer com as suas mãos?! De salientar que isto não é apenas sobre o outro mas também sobre mim própria, como aliás quase tudo o que escrevemos. Luto para as minhas mãos saberem fazer muito mais coisas do que apenas disparar letras no teclado, luto para dar abraços reais, com cheiro e tudo.

~CC~


8 comentários:

  1. Há várias profissões em que esses profissionais, se ficarem sem o posto de trabalho, afinal, não têm profissão.
    Um abraço.

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    1. Chamaram-lhe revolução industrial, depois tecnológica...agora IA...falta-nos a revolução humanista. Um abraço

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  2. As nossas mãos são qualquer coisa de maravilhoso, mas é preciso que agarrem.
    Habituado à caneta e ao teclado nunca gostei de as ter sujas, as minhas mãos são quase inúteis, não agarram, só tocam ao de leve.
    Como admiro mãos que trabalham na cozinha, com uma ferramenta, num torno, as de um artesão, de um mecânico, mãos que agarram.

    Um abraço CC.

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    1. Há sempre uma possibilidade de começar a fazer alguma coisa de bonito com elas, mesmo que saia tosco...pense nisso. Um abraço

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  3. Hummm...que sei eu fazer com as mãos?! De certeza que não um portão; impossível amontoar pedras desse tamanho. Mas sei cozinhar à antiga (mais à pobre que à rica); sei repartir pouca comida por muitos pratos, sei atear o lume, lavar roupa, loiça e o mais; pintar casas, fazer tricot, acarinhar quem precisa, escrever, semear flores, raspar ervas, fazer caldeiras de rega. Guiar mal e porcamente, andar de bicicleta, nadar pouco, manejar os talheres melhor ou pior. Dantes sabia amassar, mas já me deixei disso. Creio que quase tudo que fazemos precisa de mãos. Os abraços, como a palavra indica, precisam dos braços e as mãos só colaboram por estarem no fim (ou será o princípio) dos braços. Nunca tive uma arma verdadeira na mão mas gostava de aprender a disparar um revólver. Com a minha falta de pontaria seria um perigo. Também aprendi a bordar, mas já quase esqueci, odeio dedais, agulhas, linhas e etc, mas aprendi a coser à máquina e corto a franja n vezes. Só tive uma profissão. Se me vir aflita dedico-me à culinária, não por ser perita, mas porque não sei fazer mais nada; também sirvo como mulher a dias. São duas tarefas cansativas, melhor não pensar nisso.
    Bom fim de semana, CC.

    A minha versão de abraços com cheiro: ter estado a migar coentros ou a descascar tangerinas. Bom também nos podemos enfrascar em perfume, mas dá dor de cabeça. Ou podemos ter uma pituitária apurada e conseguir num abraço cheirar a outra pessoa, o seu odor próprio, facto que julgo ser pouco vulgar.

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    1. Invejo-a em duas coisas, uma ainda ao meu alcance, pelo menos em sonho: a horta. Costura e bordados já não estão ao meu alcance:) Abraços sempre.

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  4. Também me assaltam esses pensamentos, esses receios...
    Abraço
    Olinda

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    1. Que os receios nos iluminem e apontem caminhos. Abraço

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