Esta semana o cabaz de frutas e legumes que me chega da quinta trazia uma flor amarela.
- Olha, mandaram uma flor! Disse eu contente.
- Pois, não percebo, não se come nem se bebe! Disse ele com algum desdém.
E abriu-se ali logo um fosso.
Senti isto tantas vezes com algumas pessoas e muito próximas. Eu fazia um percurso para ir beber um café junto ao rio, perto de um jardim ou tão só num lugar com plantas e alguém me dizia que o supermercado era mais perto e mais barato. Era tão difícil explicar que poesia não é ler poemas ou escrevê-los, é a forma como se encara a vida e se é sensível ao mundo em redor.
Está ali a poesia pousada na flor amarela dentro do cabaz.
~CC~
Afirmam alguns que a poesia é para comer:).
ResponderEliminarNão sei mesmo se eu optaria por um café à beira-mar - sendo caro, longe e se houvesse vento ou o lugar fosse muito concorrido. Também é verdade que a poesia se vive, e a história do café à beira-mar até pode, em alguns casos, ser poética. Mas falta tempo, dinheiro e logo, disposição para. Contudo, há uma atitude interior (ou será uma predisposição?) que acredito seja poética e torne a vida mais vivível; varia de acordo com o sujeito e não tem medida certa. Viver a poesia, para a maioria de nós é como ser feliz: curtos fogachos em que os astros se conjugam, talvez por acaso. Viver sempre poeticamente seria terrível.
E penso que ler poesia também vale. E escrevê-la, na minha óptica, vale ainda mais, por exigir conhecimento, sensibilidade e a universalidade que leva o leitor a ligar-se ao poema. Por mais mau feitio que o(a) poeta possa ter, a algum lugar de si vai buscar o que imagina ser capaz de sentir em nome próprio ou de outrem. A poesia tem que existir escrita ou oral para aprofundar e recrear o sentimento humano.
E veio tudo isto a propósito de uma flor amarela.
É a única coisa para que não é preciso dinheiro, até uma cafeteira antiga com café do mais b.arato é mais poética do que um café dentro de um grande supermercado. É só apurar os sentidos e procurar a beleza que há nas coisas. Sem desprezar os poetas que muito amo, há poesia fora da poesia e até há poesia sem poesia alguma, é só artifício. Bom domingo Bea
EliminarÉ procurar fazer de cada dia um lugar de beleza, mesmo que seja apenas um momento. Nem todos ainda descobriram isso.
ResponderEliminarUm abraço.
Obrigada por compreender tão bem, é essa a busca constante e claro que também eu tenho dias sem poesia. Quando estava muito doente tentava vê-la nas mãos dos auxiliares e enfermeiros/as que me davam banho na cama. Eram pessoas fantásticas. Um abraço
EliminarDie blaue Blume [A flor azul] do poeta Friedrich von Hardenberg (1772-1801), mais conhecido como Novalis é a flor minha favorita.
„E veio tudo isto a propósito de uma flor amarela“ como diz a bea.
Não aceito o sabor de um café de má qualidade.
Como não vejo beleza nos supermercados.
Haja flores amarelas e azuis, café com cheirinho bom e mercearias de bairro.
ResponderEliminarE não haverá uma poesia superior em um gostar de uma coisa e o outro de outra? Não será o amor essa forma superior que arredonda arestas e gumes?
ResponderEliminarUm abraço
Acho que o amor não vive da atracção de opostos nem de semelhantes (por isso é que não acredito nessas aplicações que juntam as pessoas pelos mesmos gostos). Mas que o amor é pura poesia, lá isso é.
EliminarE são esses momentos poéticos, os "pequenos instantes de maravilha" (Pessoa), que nos salvam da loucura.
ResponderEliminardeep
Acho que um dos momentos mais poéticos da minha vida foi quando tomei banho com uma estrela do mar, lá longe, na baía de Pemba em Moçambique.
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