Caldas da Rainha, Portugal
A maior parte das pessoas tem medo do seu envelhecer externo, dos cabelos brancos, das rugas, das pregas por baixo dos braços e em torno dos lábios, de tudo o que significa a decadência do corpo. Nessa matéria, a diminuição da mobilidade é o que me assusta mais.
Mas o que me assusta mesmo é o que vejo acontecer por dentro das pessoas. Um envelhecer feito de desatenção ao outro, um excessivo centralismo nas necessidades do próprio, a diminuição da empatia e da consideração pelo que os outros sentem ou fazem. Por outro lado, quando o analiso, parece-me que provavelmente essas pessoas sempre foram assim e essas características só se acentuaram com a idade. Mas acentuaram-se, de repente apenas eles estão no centro do mundo e torna-se difícil dizer-lhes que existimos por dentro da carne, temos sangue, suor, lágrimas, vidas muito cheias de tudo, tão cheias de coisas que lhes poderíamos contar, caso nos pudessem ouvir. Mas já não querem, isto se algumas vez quiseram. Vou buscar às vezes algo para lhes dar ao cerne da bondade que me habita, mas como não sou só bondade, às vezes não consigo.
Gostava de envelhecer atenta aos outros e às suas necessidades, com capacidade de escuta activa. Ontem vi um bebé que não devia ter mais de dois meses e estava ao meu lado num evento público, ao colo da sua cuidadora (a mãe estava em palco) todo ele era desejo de relação, ele sorria, olhava atento e tentava chamar a nossa atenção. Uma maravilha de ser humano na pequenez da sua existência. Onde nos perdemos? Não me quero perder.
~CC~