quinta-feira, 30 de abril de 2020

Não há direito...


Não há direito...que ela tenha escrito o poema que deveria ser eu a escrever. E agora, o que faço?

~CC~


sempre fui miúda de sonhos descabidos
miúda grotescamente poética,
chata de coisas que chateiam
de pernas fininhas que depois engrossaram


as miúdas poéticas são bobinas de filmes, riscadas
são gaitas desafinadas
onde muitos passaram os lábios
mas não ficaram
as miúdas poéticas contemplam o suicídio
mesmo depois de uma taça de Corn Flakes
olham os telhados laranja de Lisboa
e pensam noutro sítio qualquer
semeiam flores para terem perfumes
matam-nos, por amá-las de mais


as miúdas poéticas têm cabelos desmoronados
de beatas e perguntas
têm a roupa de detergente barato
e as unhas roídas à la carte
tossem devagarinho com medo de
agredir alguém
têm pose de girafa mas não chegam às árvores.

Cláudia R Sampaio


quarta-feira, 29 de abril de 2020

O que falta...e logo é hoje o dia.



O que ainda não fizeste mas gostavas.

Não é a primeira vez que vivo com esta equação. A minha vida já esteve suspensa, aliás bem mais perto da morte do que agora. A diferença é que dessa vez os outros continuavam a viver e agora estão tão suspensos como eu.

Nessa altura pensava muito nas coisas que ainda tinham ficado por fazer. Agora é igual. 

Falta-me ir a um certo lugar dançar. Um lugar onde espero ninguém repare o quanto eu não sei dançar, de tão absortos que estarão na sua própria dança. Um lugar em que ninguém me julgue pelo que não sou capaz, em que não me sinta avaliada, em que o que importa não é a forma como se dança mas a substância da razão pela qual se dança. Um lugar em que me sinta livre para poder dançar. 

Hoje, por ser o seu dia.

~CC~

terça-feira, 28 de abril de 2020

E se...


E se começasse uma nova vida? Ocorreu-me hoje quando o vi, assim tão quieto, num lugar praticamente sem ninguém.

~CC~

segunda-feira, 27 de abril de 2020

Ligações em tempos perigosos



Alguns projectos profissionais esfumaram-se neste tempo, como se nunca tivessem existido, talvez fossem projectos cansados ou não estivessem ainda consolidados, penso neles sem lamentar esse desaparecimento, o que me deixa um pouco triste. Percebo, com clareza, o que o cansaço me fez.

As amizades têm resistido, uma sms aqui, um telefonema ali, parecem-me para ficar, fico feliz.

A família junta-se uma a duas vezes por semana, à volta do écran onde o mundo agora acontece, somos nós, entre receitas, grandes discussões filosóficas, fotos de caminhadas, cantorias, somos nós,  até a matriarca de 92 aparece pela mão da neta mais velha, gosto desta família.

O amor está à prova, às vezes parece-me frágil, outras ainda tão forte. O abraço dele é ainda o meu abraço. Tenho medo que acabe, mas acho que o tenho desde que começou.

~CC~

domingo, 26 de abril de 2020

Frio



Invejei a capacidade da Assembleia da República conseguir ter todos aqueles cravos vermelhos, eu não vi nem um à venda e não os tenho em vasos ou no jardim. 

Fiquei também a ver algumas imagens da época, predominavam os cravos vermelhos, mas havia de outras cores também. Surpreendi-me também com aquele Abril, afinal estava frio, havia muita gente com camisola de gola alta e casacos quentes. 

Mas certamente não o frio que agora vivemos, nunca gostei dele, mas agora é muito além da temperatura, é isto de passarmos para o outro lado da rua quando nos vamos cruzar com alguém. É uma coisa que me arrepia.

~CC~

sábado, 25 de abril de 2020

Inteiro e limpo



Eu era só uma miúda em 1974 e o meu mundo estendia-se pouco mais além do meu quintal em Luanda.

Por isso eu não esperava "um dia inicial inteiro e limpo", só muito tempo depois descobri o que era isso. Mas guardei bem a descoberta, como um tesouro.

Hoje, como antes, precisamos tanto de dias assim.

~CC~

sexta-feira, 24 de abril de 2020

Casa



Voltei a casa.

Sentimentos contraditórios, sem dúvida.

Muito mais calor aqui.

A cidade já não está como a deixei, muito menos silenciosa, muito mais gente na rua. Na caminhada vimos pelo menos duas grandes confraternizações de homens adultos, com cerveja e/ou vinho. Um grupo de adolescentes também, quatro miúdas sentadas ao colo umas das outras. Um dos homens gritou quando passámos ao lado: as pessoas estão a perder o medo! Pensei para comigo: ou a mostrar a sua ignorância.

~CC~

(Quase) o mais belo dos lugares



Não sei se foi intencional, acho que não, não eras grande educador, muito menos um pai convencional. Mas sei que foste tu, que foi contigo que aprendi a amar os livros. 

Ao contrário de ti, que me ensinaste a amar os livros só pelo facto de os amares, eu esforço-me por fazer com que os meus estudantes gostem deles, ao contrário de ti, sei que apenas serei parcialmente bem sucedida. Nos dias bons, essa parte fará de mim uma pessoa feliz, nos dias menos bons sentirei que falhei e que fiquei muito aquém da pessoa que podia ter sido. Mas de qualquer forma fui melhor a fazer amar os livros do que a produzi-los por mim própria, a dar-lhes vida e a colocá-los cá fora, essa foi uma vida pela qual não me esforcei o suficiente e há muito que sei que não será a minha. 

Se algum dia o fizer, coisa de que já duvido, será uma espécie de livro único para cumprir, dos três desejos, apenas o que ficou por realizar. Apenas para o cheirar, para deixar como herança à família, para fazer uma festa com beberete, poemas e canções, um mero gesto egocêntrico do qual terei alguma vergonha. E para o ver existir numa livraria, mesmo que por pouco tempo, nesse que é quase o mais belo dos lugares do mundo, não houvesse o campo, o mar e o céu.

~CC~


quarta-feira, 22 de abril de 2020

Mais uma lição



Afinal, o estudo em casa, é igual ao que se passa nas escolas, ou seja, o melhor continua a ser o intervalo.

~CC~

É hoje o meu um em dois



Não sei se já perceberam que estamos todos a contar a quarentena a partir de dias diferentes, uns já vão no 36º dia, outros no 37º dia, outros mais para trás e outros mais para diante. Qual será o dia 1 de cada um? Aquele em que decidiu ficar em casa? Aquele em que decidiram que devia ficar em casa?

É a objectividade possível em dias pouco objectivos, ainda que a tendência de contar tudo se tenha vindo a instalar, como se toda a verdade que não apresentasse num número se trate apenas de uma insignificância. Assim, batota, por batota, chegou a minha vez de falhar um dia de post e publicar o de ontem como se fosse hoje ou um em dois.

É esta mania que as horas ganharam de se enrolar umas nas outras e todo o tempo se tornasse afinal nenhum tempo, ou talvez esta seja uma nova forma de viver, não quero que perdure este confinamento, mas também não quero voltar à correria de antes. Ando à procura.

~CC~

segunda-feira, 20 de abril de 2020

É agora em casa...



Não estive lá às 9h, pois como diz a minha filha, o autocarro aqui nunca passa a horas, afinal estamos escondidas numa aldeia.

Mas às 10h lá estávamos, prontas para aprender quase tudo outra vez.

(e desejosa de tirar audiências a um certo canal, uma certa senhora um bocadinho histérica, que domina as manhãs...)

~CC~


domingo, 19 de abril de 2020

Lavar



Não nos basta apenas o pão, embora ele seja a matéria substancial que a muitos falte.
Sentia tanta necessidade de lavar o olhar com o mar e mergulhar nele a alma inteira para regressar a mim mais limpa.


(Com os devidos cuidados para não encher as praias, não vi mais do que umas 10 pessoas e todas bastante dispersas umas das outras, esta não é propriamente uma zona de veraneio nem de passeios de Domingo. Se for, escolha com cuidado e se chegar lá e estiver muita gente, não hesite em regressar, era essa a nossa ideia).


~CC~


sábado, 18 de abril de 2020

O que não esqueceremos?



Nunca mais esqueceremos.

Não sabemos exactamente que marcas ficarão nestes meninos que pintam arco-íris para colocar nas janelas e que na segunda feira começarão aulas pela televisão.

Não sou capaz de traçar as minhas, por enquanto.

Mas há coisas que não esquecerei também, entre elas os quatro jovens que me pediram para falar comigo na sexta feira à tarde (on-line claro), tinham tudo apontado em nome da turma, uma lógica construtiva e lúcida de fazer inveja a muitos adultos. Mas também uns olhos tristes, demasiado tristes para quem tem apenas vinte anos. E uma noção do timing adequada, quando chegaram a uma hora de conversa, tiveram a iniciativa de dizer que já tinham dito tudo e que não devíamos gastar o resto da nossa sexta ali. Agradecemos todos uns aos outros e senti-nos sinceros e próximos. Às vezes ainda vale a pena, não obstante as muitas vezes em que neste último ano senti vontade de deixar todo e qualquer cargo de gestão, não tanto por eles, é certo.

~CC~

sexta-feira, 17 de abril de 2020

Conchinha



Dormir de conchinha faz-me falta, pele encostada a pele. Essas noites em que vinhas ou em que eu ia, tudo ao sabor da nossa liberdade.

~CC~

quinta-feira, 16 de abril de 2020

Só podia ser de grandes aguaceiros...



Só podia ser de grandes aguaceiros o dia em que morre um escritor do Chile. É assim que me chega sempre o Chile, um país de nevoeiros, mais frio do que quente, mais circunspecto e melancólico de que qualquer outro país da América latina. Parece que também tem calor e deserto, mas não consigo imaginá-lo. Um lugar onde não há tango nem há samba, talvez pudesse ter fado. E os povos que vivem longas ditaduras têm sempre algo de triste e resiliente. E em comum connosco essa estreita língua de território comprida, toda voltada ao mar, fazendo com que a paisagem seja muito variada e as culturas também. Parece que também chamam ao seu país uma terra de poetas, como nós fazemos.

Luís Sepulveda poderia facilmente passar por um de nós, não obstante ter escolhido outras duas pátrias como suas: Espanha e França. Eu gosto de pessoas com muitas pátrias, que vivem circulando entre fronteiras, talvez em busca de si mesmas. E de pessoas que falam com animais e com plantas e mesmo com estrelas e com anjos.

~CC~

quarta-feira, 15 de abril de 2020

Uma voltinha



Está ali parado desde o dia 27 de Março. Deve estranhar esta ausência por parte de alguém que em menos de cinco anos o obrigou a chegar aos centro e quarenta mil Quilómetros. Meu companheiro de tantas horas, desenhando projetos, resolvendo tarefas, idealizando momentos ou simplesmente usufruindo da paisagem. Tanto tempo de estrada, sobretudo a sul, às vezes rompendo o quotidiano e indo para norte. É verdade que por vezes o ansiava trocar por um melhor e sobretudo um eléctrico. Mas agora chegava-me uma boa voltinha nele, ganhei gosto por conduzir e afinal é destas coisas simples que os quotidianos se traçam.

~CC~

terça-feira, 14 de abril de 2020

Velhos e sábios (I)


"A verdade é que este período de luta pela sobrevivência física não gerou até agora nenhum sobressalto político ou espiritual, nenhuma tomada de consciência da necessidade de mudar de vida. Não gerou esperança no futuro. "

José Gil

Artigo completo aqui

segunda-feira, 13 de abril de 2020

Geometria variável



Não tenho traçado metas profissionais por semana como antes, muito menos por dia.

Às vezes tento ainda fazê-lo como nos velhos tempos, usando o caderno próprio, obrigatoriamente liso e A5, com capa dura, se possível com uma cor bonita.

Fico sempre aquém e importo-me menos com isso. Hoje até foi um dia produtivo, devo ter chegado a metade do que me propunha realizar. E também realizei o que não tinha antes pensado, um documento em que repeti aí umas dez vezes a palavra flexibilidade. É que há gente a pensar como antes, traçando cenários ao dia, como se os dias ainda estivessem nas nossas mãos.

Há muito que a regra deveria ser a geometria variável.

~CC~

domingo, 12 de abril de 2020

Hei-de fazer melhor


Mãe, vê se aguentas até à Páscoa do próximo ano. Lembra-te que dizias que só chegavas aos noventa e que agora já passaste em dois anos essa meta.

No próximo ano pode ser que o folar de Olhão me saia melhor do que este, é que é coisa mesmo difícil de fazer, não sei como é que o vendem a oito ou nove euros no supermercado, aquele outro que se faz no país todo saiu mesmo bem, já este...é uma parca imitação, desculpa lá.

Estou estranhamente apegada desde há uns anos a esse lugar em que nasceste. Temos que lá voltar para comer um xerem e uma raia alhada e para passear um bocadinho junto à ria. Resiste mãe, havemos de voltar a estar todos juntos.

Hei-de voltar a fazer este folar, ai de mim que não consiga lá chegar, talvez tenha que usar uma balança, um copo medidor, qualquer coisa mais do que o meu olho, que mesmo clínico, tem umas certas falhas. Hei-de fazer melhor.

~CC~

sábado, 11 de abril de 2020

Aos anónimos



Certas palavras invadiram de rompante o nosso quotidiano, coisas pouco habituais como pandemia, pico e planalto, gastaram-nas até à exaustão. Também se usa muito o novo normal, coisa mais de elite.

Surgiram também profissionais que pouco vinham à ribalta e menos ainda eram ouvidos pela comunicação social, tais como os epidemiologistas, os intensivistas e os matemáticos. Multiplicaram-se de tal modo que acabaram por se anular um pouco uns aos outros, reclamando cada um a virtude maior do modelo matemático usado. E houve médicos a filmarem interiores de hospitais, como se fizessem uma série de televisão a partir da própria realidade. E famílias a deixarem-se filmar e aos filhos bebés nas suas casas para mostrar as dificuldades da quarentena. Alimenta-se o bicho papão sempre com mais uma história, variando entre o aplauso, a dor, o terror. Mas o pior vem mesmo quando os jornalistas acham que são poetas, pois o que fazem é simplesmente má poesia, um traço que também tem marcado os dias em que vivemos (E se tivessem chamado mesmo os poetas?!). A comunicação social parece ter-se auto convencido do papel essencial, vital e maravilhoso do jornalismo, mas acho que pouco ou nada melhorou e que continua a haver muito mau jornalismo. O espectáculo, ainda é o espectáculo que tem a primazia sobre quase tudo o resto. E heróis, que os há, serão sempre anónimos, não precisarão de ter sobre eles os holofotes, estes holofotes. Daqui a uns anos, talvez um livro, um filme, nos traga a história de um deles, bem contada, não para nos pôr a lacrimejar ou para nos assustar, mas para nos mostrar a imensa complexidade do ser humano nesta luta.

~CC~





sexta-feira, 10 de abril de 2020

Páscoa na Aldeia



Estou num mundo que me é estranho, pertenço a uma família não crente, embora o meu pai se tivesse filiado em vários credos, ou melhor, filosofias espirituais, a mais séria o Rosacruz. Olho, assim, com espanto e curiosidade estas manifestações de religiosidade, tentando entender o que vai dentro de um coração quando as constrói e as coloca assim disponíveis e partilhadas com o olhar alheio.
~CC~


quinta-feira, 9 de abril de 2020

Do que tens mais saudades?


Já foi na semana passada que, num momento na sala, brincámos ao jogo "do que tens mais saudades"? E depois, ela, racionalista como é, avisou-nos que não podíamos dizer coisas pirosas

Ora eu só tinha quase coisas pirosas para dizer:

1. Da liberdade
2. Dos abraços e beijos
3. Do mar

Ela explicou então o que não era piroso, dizer coisas simples e triviais do dia a dia, tipo beber um café numa esplanada, comer sushi, encomendar frango assado ou afins. Pois...

Com algum esforço consegui lembrar-me das tais outras coisas não pirosas: ir ao cinema, ao teatro, a  um concerto...ou tão simplesmente caminhar na baixa da minha cidade (ai, esta última já tem o seu bocadinho piroso).

E vocês, quais as três coisas de que têm mais saudades?

~CC~

quarta-feira, 8 de abril de 2020

Paredes



Além de andar sempre de nariz no ar a olhar para as copas das árvores, também aprecio paredes. Estas duas fazem parte da minha primeira e segunda quarentena e da tentativa de guardar beleza dentro da câmara, ou dentro de mim.




~CC~

terça-feira, 7 de abril de 2020

Bipolar



Uma parte de mim continua a mexer-se, quase tão freneticamente como antes. Essa parte de mim aplaude os projetos que chegam, estimula os alunos, contacta os colegas que não estão activos e deviam estar, envia mails a vários contactos profissionais, retoma formações interrompidas, comenta textos, ajuda na idealização dos cenários.

Mas há outra parte de mim que parece ter parado, chegou uma espécie de outro andamento, fui embalada por este cheiro a terra molhada, pela visão das flores campestres, pelos abraços às árvores, pela lassidão das ovelhas que pastam com tanto vagar, pelo sono do cão que dorme toda a tarde em baixo da mesa, pelo relaxamento das sessões de yoga. Faço pão em casa como quase toda a gente, tomo banho às horas que me apetece, visto-me só às vezes e demoro mais nas refeições colectivas. 

Já conhecia a minha bipolaridade Inverno-Verão e Dia-Noite, mas não conhecia a minha bipolaridade em tempos de pandemia, que é do tipo: estou aqui a reagir e somos todos capazes ou deixem-me aproveitar e descansar um bocadinho. Contudo, mesmo quando descanso, não é um descanso como os outros, é sempre como se nele se tivesse infiltrado um pouco da tristeza do mundo.

~CC~

segunda-feira, 6 de abril de 2020

Sul


Sul, vida a sul.

Era por volta desta altura que o quintalinho cheirava intensamente a goiabas e se abria a mesa e o guarda sol. Normalmente eu reclamava uma toalha nova pois o uso tinha estragado a do Verão passado. Preferia então sumo fresco às minhas papas de aveia de todo o Inverno. Os pequenos almoços passavam a ser no exterior. Às vezes tu tocavas viola, assim logo pela manhã. Parece tudo tão longínquo, uma espécie de mundo paralelo. Tenho saudades.

~CC~

domingo, 5 de abril de 2020

Novas experiências



Vi dois vídeos antes, fui buscar a régua e o pente muito fininho. Instalei a cadeira junto à janela, uma toalha grande no chão e outra sobre os ombros. Depois cortei-lhe 7 cm de cabelo, mais coisa, menos coisa. Nunca antes tinha cortado o cabelo à minha filha. Tive quase tanto receio como quando tirei a carta de condução e bastante mais do que quando fiz a defesa da tese de doutoramento.

~CC~

sábado, 4 de abril de 2020

Almoço comunitário


Lembram-se de voz dizer que ia a um almoço comunitário? O convite chegou do grupo de Teatro o Bando:

"Já estamos em Abril, e parece que tanta coisa mudou.
Mas há coisas que nunca mudam!
No próximo dia 4 de Abril é dia de PRIMEIRO SÁBADO DO MÊSo nosso almoço comunitário onde juntamos todos à mesma mesa para partilharmos a mesma refeição e assistirmos a uma conversa como sobremesa!

A ementa será Abóbora assada e chèvre uma sugestão do Ricardo Esteves Ribeiro, jornalista dos FumaçaE, desta vez, a nossa proposta é que sejam vocês os cozinheiros e as cozinheiras dos pratos que todos iremos provar!
Descarreguem aqui a receita do Ricardo, preparem o repasto e enviem-nos fotos desse momento na cozinha para bilheteira@obando.pt .

Depois, às 14h, já com a mesa posta em directo na nossa página de facebook e de youtubesentem-se connosco para assistirem a uma conversa sobre informação e jornalismoum tema tão pertinente nestes dias que vivemos. Teremos uma caixa de comentários aberta para perguntas aos nossos convidados."

E fui:




~CC~



sexta-feira, 3 de abril de 2020

Paeonia Broteroi



A primeira vez que ouvi falar dela foi quando perguntei a um grupo de miúdos o que era precioso e único no lugar em que viviam. Demorei a perceber o que era uma rosa selvagem, já que para mim as rosas eram as flores mais domesticadas e burguesas de todas e, como tal, não me encantavam. Mas a rosa albardeira floresce nos bosques de azinheira, sobreiro ou carvalho, perto de cursos de água e à sombra. Parece que os escaravelhos as preferem a todas as outras, mas para nós são tóxicas, embora possam servir fins medicinais, se na dose certa. A sua cor rosa púrpura, com aquele centro amarelo, ganhou um lugar especial no meu coração, depois daqueles tempos da oficina de histórias feita com os miúdos da serra. Calhou que esta segunda etapa da quarentena me acontecesse aqui, neste mesmo lugar, e no tempo em que elas florescem (entre Março e Junho).

E na sua origem, a nossa querida Grécia e a guerra de Tróia. Houve um médico -Paeon-que tratou muitos feridos, recuperando-os. Plutão, em agradecimento, não deixou esse médico morrer e transformou-o numa flor, nesta flor. Uma flor para estes tempos.

~CC~






quinta-feira, 2 de abril de 2020

quarta-feira, 1 de abril de 2020

Para resistir (3)



Para resistir pensa na pele de alguém que amas, nesse modo como duas peles se tornam mais quentes quando juntas. E se não amares ninguém, nem puderes pensar na pele de alguém em particular, sonha uma pele para ti. Pensa em como seria a sua textura, o seu cheiro, a sua temperatura. 

E se não te apetecer pensar neste tipo de pele amada, pensa noutra, na pele dos filhos, dos netos, dos sobrinhos, nesses abraços que um dia virão, no modo como as peles se tocam quando nos encostamos uns aos outros num abraço, no toque dos rostos.

~CC~