terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Primeira sessão (1)


Seis sessões é um filme a não perder.




Diz-nos que o corpo é um local possível de ser habitado pelo encontro com outro corpo e é infinitamente belo que a pele possa ser o epicentro da troca.
 
Diz-nos que a palavra dita sobre o amor é tão bela como o próprio amor e quem a domina tem a dose certa de encanto sobre o outro, superando as limitações ditadas pela deficiência física. Quando o coração se encosta à boca dos homens e se solta, as mulheres activam as suas células lunares para captar o sopro alado das palavras e é isso que as deixa rendidas. No seu funeral ouvimo-lo dizer para olharmos para as três mulheres que amaram um multideficiente grave, sabemos que o fizeram porque cresceram na medida do extraordinário homem que ele era.
 
Ficamos ainda a saber que o amor tem as suas próprias traduções nos corpos que toma por inteiro.
 
~CC~

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

domingo, 27 de janeiro de 2013

Abcedário caótico - P de Perdão



Quando o meu pai ficou muito doente e não tinha mais ninguém que cuidasse dele, apenas as filhas com as quais nunca tinha vivido, tive pela primeira vez a noção do que era o perdão. É uma generosa aceitação do erro do outro que fazemos pelo que resta em nós de amor por essa pessoa. E quanto mais perdoamos mais esse amor é capaz de fluir em nós com uma sensação enorme de paz. Superar a nossa zanga não é dizer que ela não existe, é saber passar a pomada certa na cicatriz e sentir que quando passamos os dedos na pele, ela está lá mas já não dói.
 
Se os outros nos afectam às vezes ferem-nos, é inevitável.
 
 
~CC~

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Essa máquina chamada corpo


O corpo é uma máquina que se gasta com o uso.
 
Maltratei o meu anos a fio, desprezei-o entre as muitas tarefas que tinha, quase todas apontadas aos neurónios. Há quem adoeça e nada tenha feito para isso, deu tudo ao seu corpo, mas não foi o meu caso. Algumas coisas foram sempre uma boa ajuda, por exemplo a inexistência de um médico de família no meu centro de saúde e a sua brilhante e magnífica localização num prédio velho de dois andares. Mais ajudas: em quase todas as consultas ou situações de emergência deparei-me com médicos sem interesse pelo doente, a sensação é que falam de medicina preventiva mas só actuam em situação de emergência. É uma classe profissional a precisar de doses extra de humanidade e de humildade.
 
O meu corpo, sempre que pensava que era tempo de lhe dar atenção, outra coisa surgia. Sinto que me falha ao mesmo tempo que ainda tanto preciso dele. Proponho-lhe um pacto como quem tenta recuperar um amor em vias de extinção.
 
~CC~

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Notícias



Não, não se trata do regresso de Portugal ao mundo dos deuses, isto é, aos mercados.

É aqui mais a sul, ainda mais...

Sabem...

Não estava à espera mas as amendoeiras já estão em flor.

~CC~

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Caminhos


Foi este Verão. É certo que ainda lá estavas mas já andava à tua procura. Agora procuro por mim.
~CC~


domingo, 20 de janeiro de 2013

Domingo grande

 
 
 
Hoje...

A chuva parecia particularmente bonita nas árvores do jardim Gulbenkian

Saber mais do projecto 10x10...é preciso virar a escola do avesso.

Ouvir a música que conta uma história triste no meio do gelo, um manifesto pela vida.

Perceber que o piano não é o único instrumento que pode ser tocado a duas mãos. Que difícil parece tudo o que é construído assim mas que bonito é.


~CC~







sábado, 19 de janeiro de 2013

Odisseia doméstica



Um dia ela simplesmente deixou de responder ao botão de ligar, ficou muda e quieta como quem quer morrer.
 
Inábil para indagar quais os seus motivos, tentei uma e outra vez. Seguiram mensagens de socorro para as amigas da terra que demoraram por a responder. Segui via NET em busca de um técnico. A página parecia profissional e a empresa dizia-se líder, arranjavam todas as marcas de máquinas de roupa de Lisboa e margem Sul (e aqui acabava para eles a margem Sul). O primeiro veio assim logo na manhã seguinte ao telefonema, não trazia uma única ferramenta e olhou para a máquina mais ou menos como eu olho para ela. Foi expedito no diagnóstico: isto é um problema de canos. Disse que duvidava....mas não evitei pagar-lhe 60 euros por deslocação, já que nada fez mais. Num dia bom não lhe tinha pago mas apanhou-me num dia de chuva intensa e tristeza incorporada.
 
Veio o segundo, este por via de uma amiga. Falou por mais de duas horas na minha cozinha, contou-me a vida inteirinha e de meia em meia hora fingia que arranjava a máquina. Não cobrou nada mas devia ter-me pago pelas duas horas de consulta. Era um louco bem disfarçado.
 
O terceiro veio enfim pela marca da máquina, trouxe caixa de ferramentas e crachá e foi dizendo que ao contrário do que eu pensava o fecho estava bom. Conseguiu colocá-la a trabalhar mas ligou-a tantas e tantas vezes que ela se baralhou e deixou de trabalhar mais uma vez. Ele concluiu que afinal era do fecho e foi trocá-lo. Pediu a módica quantia de 100 euros. Pelo caminho destruiu um rodapé que fez questão de dizer que já estava podre e não fazia ali falta nenhuma. Esta odisseia durou três semanas.
 
Eu antes queria cantar a canção do Chico e da Bethania (gosto mais desta versão) pois destes não há memória boa possível.

~CC~

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Diálogos (I)





Verde: Diz-me que é possível
Vermelho: Não sei, olha as ondas...
Verde: Ouves-me?
Vermelho: Oiço-te melhor quando não falas.
Verde: O que ouves no meu silêncio?
Vermelho: Oiço o bater do teu coração.
 

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

A vida dos outros



Lembram-se do cinema Paraíso?
 
Hoje fui dar com uma história idêntica, ocorrida no teatro da minha cidade. Um casal viveu num apartamento minúsculo no último andar do teatro durante mais de vinte anos, aí nasceu uma criança e cresceu a brincar nos bastidores e a esconder-se entre as cortinas do palco. Nunca tiveram férias nem fins de semana, ele descia sempre que necessário, ela vinha ajudar como podia. Nada do que foi a vida daquela família poderia hoje ser, o edifício antigo degradou-se até ao limite do possível e as regras de segurança do que foi reconstruído não se fizeram à medida dessa história, não a albergaram. Não gosto do que desaparece e não se regista para o futuro, não gosto do que as paredes escondem e não deixam ver.
 
Hoje há no último andar e recentemente aberto um café com uma vista linda sobre o rio. Olho-o até ao seu limite e vejo o outro lado, recordo-me então como há um ano atrás também ouvi as incriveis histórias das mulheres que iam pescar com os seus homens no estuário. Recordo o esforço que fiz para as ouvir sem que os meus olhos se enchessem de lágrimas que elas não iam entender. Baixavam a voz e riam para falar do sexo dentro dos barcos (ai, ai às vezes os barcos abanavam). Uma delas contou como a filha nasceu dentro do barco.
 
 
 
Tenho o enorme privilégio da minha vida se ter sempre enchido de histórias assim e delas me terem ajudado a descentrar-me da minha própria vida, ela torna-se mais especial quanto mais se aumenta por tudo quanto é diferente de mim. Apaixono-me por tudo o que é genuíno.
 
~CC~

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Crónicas de separação (II)



Certas cidades tornam-se impossíveis, há ruas que evitamos, determinados momentos do dia que se tornam vazios. O acordar, o deitar, esses rituais que eram habitados por palavras do outro e agora são um lugar de silêncio.

Achamos o nosso olhar diferente no espelho, há um brilho que desapareceu.

Quantas vezes não partimos para acabar com uma dor e ganhamos subitamente outra dor, esta é diferente, é outra coisa. Demoramos a sentir o presente, não queremos sequer imaginar o futuro, na maior parte das vezes esperamos que os dias passem.
 
Não há separações felizes, mesmo as que se desejam, mesmo as que terminam com alguma coisa estava nas antípodas de um crepúsculo visto a dois. Lembro-me desse dia, desse momento em que esperei mas ele não veio a tempo. Amar é também saber respeitar certos encantos que moram no coração do outro, por exemplo aquela cor que o dia tem quando se despede de nós.
 
~CC~
 

domingo, 13 de janeiro de 2013

Livre como o vento




Tinha toda a razão - a ciência só serve se puder ser partilhada - e morreu por ela. É quase inacreditável.

http://www.publico.pt/tecnologia/noticia/aaron-swartz-fundador-do-sistema-rss-suicidouse-aos-26-anos-1580563

Agora é pó deste infinito universo, nós é que ficámos a perder.

~CC~

Crónicas de separação (I)



Sábado muito cedo o pai vai para o café levando o miúdo, com cerca de 3 anos, que foi certamente o motivo do seu acordar. Mal chega ao café o miúdo arranja uma amiga da mesma idade e os dois brincam ruidosamente felizes. O pai puxa do seu cigaro e fuma-o lentamente, os olhos ora postos nas árvores abanadas pelo vento, ora postos na brincadeira feliz. Depois a miúda vai-se embora com os pais e o miúdo chora copiosamente, soluça em zanga absoluta com o pai.
 
- Não tenho ninguém para brincar!
- Quando vens para casa do pai, podes convidar um amiguinho, o pai não se importa.
- Quem?
- O M., por exemplo.
- Ele diz que a casa é feia!
- Qual casa, a tua ou a do pai?
- A do pai....
- Mas como é que ele sabe que é feia se nunca aqui esteve?!
- Mas ele diz que é, ele não quer vir.
 
A díficil vida dos pais separados é isto, os pais têm casas feias e não sabem o que fazer com os filhos, querem que tudo corra bem mas não sabem como. Os miúdos cobram, mesmo de forma insconciente, a separação. Muitos ultrapassam isto tudo e tornam-se mais pais do que alguma vez foram, outros nunca mais chegam a entrar na vida dos filhos, nunca conseguem que o M vá lá a casa.
 
~CC~

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Descredibilizar o conhecimento


Os políticos têm vindo de forma crescente a usar o designado "conhecimento" como forma de credibilizar as políticas. As políticas deixaram de conter ideias, argumentos, elas não passam de um alinhamento de dados ditos científicos. Não há política que se desenhe que não tenha por base "um estudo". O problema é que há estudos para todos os gostos e feitios, todos os dados podem ser manipulados, todas as conclusões podem ser alinhadas para sustentar uma determinada concepção que já estava à partida definida.
 
Talvez no início, quando os políticos começaram a procurar os investigadores para tudo (no início dos anos 1950 mas de forma assinalável a partir dos anos 1980) estes se tivessem sentido orgulhosos, acreditando que a Ciência iria fundamentar a decisão política. Mas nada disso aconteceu, pelo contrário, as políticas é que têm vindo a descredibilizar a Ciência. Já todos torcem o nariz cada vez que ouvem falar "num estudo" ou num "relatório" e qualquer dia um investigador terá que apresentar as suas ligações partidárias antes de falar ou pura e simplesmente não será ouvido. Ainda por cima confunde-se não raras vezes dados estatísticos (altamente manipuláveis) com investigação. 
 
Para quem acredita e gosta de investigação seja em que área for, isto é extremamente triste.
 
~CC~ 
 
 
 

Semear




Tenho saudades dos meus antigos alunos, desse tempo em que eles chegavam disponíveis para um intenso processo de transformação mais do que de formação. Tenho saudades do que fomos capazes de viver juntos, esquecidos das barreiras dos nossos estatutos, empolgados pela viagem comum. Acontece cada vez menos magia. Nunca pensei algum dia ter vontade de desistir de uma profissão que era profundamente a minha pele. Tenho um intenso desejo  de ter ter sementes nas mãos e as lançar numa horta, de ver coisas a crescer, deve ser uma espécie de substituição da função de cuidadora.
 
~CC~
 
 
 

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Quando um homem se torna grande


Na verdade é um homem muito grande e quase um desconhecido. Sei que nada quer comigo, se quisesse não se confessava assim como confessa. Às vezes acho que sabe que eu tirei uma licenciatura em Psicologia e embora não exerça clínica, sabe que tenho colada à pele essa lupa da análise, mas na verdade não me lembro de lhe ter dito nada sobre a minha formação. Outras vezes penso que diz as mesmas coisas a toda a gente e eu sou só mais uma a ouvi-lo. Outras que me escolheu por me saber tão só quanto ele, intuiu mesmo sem eu ter dito nada. São conversas de amigo e não de colegas de trabalho que é meramente o que somos. Sou avessa depois de algumas más experiências em transportar para a vida as companhias de trabalho, prefiro deixá-las naquele contexto. Admito que pode ser uma parvoíce e conheço casos que desmentem esta minha desconfiança.
 
Na verdade ele fala quase o tempo todo e não fora falarmos num sítio público à hora de almoço e eu diria que se tratava de relação terapêutica. Mas atenção, como quase todas estas relações, não há um a tratar o outro. Ouvi-lo faz-me um bem enorme. Ele tem quase dois metros de altura, se não os tiver mesmo, mas tem a fragilidade de um menino. E diz coisas como esta: só quero apaixonar-me, ainda vou encontrar uma grande paixão, vivê-la total e inteiramente, ainda me vai acontecer. Mais: Sempre fui muito arrumado, contido, agora só quero desarrumar-me. Acreditem que isto não é o que pode parecer, ele não mo diz por poder ser eu o alvo dessa paixão, di-lo porque quer que uma mulher o escute, que uma mulher saiba que ele é capaz.
 
Se ele soubesse como me faz bem ouvir um homem dizer isto, é como se restaurasse a minha confiança outra vez nos homens em geral e na sua capacidade efectiva de entrega.
 
~CC~
 
 

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Na Índia


O melhor e o pior convivem naquele imenso país, lutemos contra o pior!

http://www.avaaz.org/po/end_indias_war_on_women/?tta


~CC~

PS. Sou avessa a petições e coisas que tais mas na verdade esta organização parece-me das mais sérias.

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Para sempre



Cada amor meu foi para sempre, não pude pensar nele de outra forma. Por isso me custa que morra, que se evapore, que desapareça. Não que não queira ver essa morte de frente, de olhos bem abertos. A catarse é feita de muitas lágrimas e não tenho problemas em soltá-las.

Ver de olhos bem abertos e falar muito e de tudo o que alma traz de luz e de dor, essa minha impertinência foi qualquer coisa que afectou o meu amor do primeiro ao último dia, se eu pudesse fechar os olhos, ele teria sobrevivido. Mas o que sobraria de mim?! Quem seria eu de boca fechada e olhos cegos?! Qualquer coisa amada nas antípodas de mim. Outra eu. O desejo de todos nós é sermos amados por aquilo que somos.

Cada amor meu foi para sempre, pensei-o assim do primeiro ao último beijo, para cada amor pensei envelhecer com ele fazendo-o viver eternamente. E desacreditando metade dos dias, ainda acredito na outra metade.
 
~CC~

domingo, 6 de janeiro de 2013

Mais mudanças



Como vos disse, mudei a minha forma de encarar as facturas, hoje não quero saber delas para nada.
 
Mudei a minha forma de encarar os pedintes nas ruas. Nunca dava uma esmola, achava que era o Estado que devia cuidar deles, o meu contributo estava saldado com o pagamento dos impostos. Às vezes propunha-me para lhes pagar qualquer coisa para comer. Para além disso, considerava que dar era contribuir para este modo de vida, era alimentar a dependência. Além disso, muitos de nós acreditavam que eles podiam arranjar trabalho, se não o faziam, era também porque não o queriam fazer.
 
E agora?!
 
Não há trabalho, o Estado só cuida dos bancos descapitalizados. Ainda temos o banco alimentar e similares...mas penso porque darei a organizações que vivem disto...mais vale dar directamente a quem pede na rua o que posso. E dou, passei a dar.
 
Mas às vezes não sei como viver quando ruiu metade daquilo em que eu acreditava.
 
~CC~

sábado, 5 de janeiro de 2013

Qualquer coisa imaginada



O amor é qualquer coisa que vive na nossa imaginação, pelo menos naqueles que o imaginam. José Luis Peixoto escreveu muito bem sobre esse amor que vive connosco paredes meias mesmo sem existir e quando ele passa a existir como assume a forma do amor que imaginámos. A Viviane e o Zambuzo emprestam a sua voz rouca e doce.




~CC~

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Malditas facturas



Eu sempre fui uma militante dos impostos, crente no sistema nórdico de um Estado capaz de velar pelos direitos sociais de um povo junto por uma língua, uma bandeira e mais umas quantas coisas que geram identidade. A maior ofensa que me podiam fazer era dizer-me se queria factura ou não e alterar o preço em função disso, paguei muitas vezes mais por exigir a factura. Para mim era natural pagar e fazia-o com orgulho a pensar no bocadinho de uma escola nova para a qual eu teria contribuído. Desde o BPN que desacreditei, sei que demorei bem mais tempo que outros que mais cedo abriram os olhos.
 
Hoje tive que mostrar o cartão de contribuinte três vezes e receber três facturas que não quís. Quando dizia que não queria nada, bastava um simples talão, os comerciantes respondiam que então não podia levar o produto em causa. Nunca pensei viver para ver isto: os cidadãos a vigiarem-se uns aos outros por conta do Estado que os rouba. Não fico nada contente com esta minha negatividade, nunca quis pensar em problemas sem pensar em soluções, passo parte do meu tempo a imaginar um mundo sem este sistema financeiro e às vezes vou muito mais longe e imagino-o sem partidos políticos e sem fronteiras. Depois, regresso, como quase todos, à vida em que tenho que pensar nas coisas triviais que nos alimentam os quotidianos mas com pena de não dedicar mais tempo a pensar com outros as alternativas (sem congressos e assim...).
 
~CC~
 
 
 
 
 
 

quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Atravessar


Há tanto tempo que não entrava num bailarico de aldeia, ocupando a mesa com a bebida e as passas, enquanto se espera pela coragem de ir dançar. A pista de dança é sempre primeiro dos meninos e mais tarde dos pares na casa dos sessenta. Pergunto-me como vim aqui parar, supreendida com a minha própria vontade de espantar a espessa tristeza que anda colada à minha pele. É preciso nunca deixarmos de nos inventar, de nos surpreendermos a nós próprios. Cada volta dada, cada pirueta,  cada abraço de quem está aqui, tem a dose do antidepressivo certa sem conter nenhum químico.
 
Depois olho-a e vejo que foi o melhor que lhe dei em muitos anos. Ela deve ser a mais velha e como dança no salão da casa do povo, dobrando com um sorriso este ano maldito. No Natal este ano todos falaram em partir, só ela se manteve no silêncio, perguntando mais tarde para onde iam todos afinal. Estamos ainda aqui, pelo menos para ela este ano terminou sem solidão.
 
A chuva deixou tudo molhado e permite-me umas lágrimas. No dia seguinte está sol e permite-me um sorriso.
 
~CC~