domingo, 26 de abril de 2015

O que é Abril...



Abril é a dança na rua, ao som de quem defende a música que vem das entranhas de um povo que cantava (e canta ainda?) para suportar a dor do trabalho, celebrar o prazer do encontro, dizer do amor e da amizade. Abril é eles terem sobrevivido 40 anos, acredito que com dificuldade.

Abril foi a minha manhã de 25 numa casa abrigo para mulheres vítimas de violência doméstica, não é o melhor dos mundos, mas já têm para onde ir, já é possível meter a colher entre marido e mulher.

Abril é também a possibilidade do beijo em plena praça central da cidade.

Abril é também haver um homem que cose botões na camisa da namorada.

Abril é também a moça mais nova preferir ir conversar com as amigas para o café em vez de vir para a praça central da cidade onde é a festa, se diz que é festa.

Não era preciso gastar tanto em fogo de artifício. O céu riscado de fogo é dentro de cada um de nós, 25 de Abril é uma iluminação interior.

Abril, como disse ao meu amor, são as micro coisas. Essas coisas que vos disse, E outras.

~CC~


quinta-feira, 23 de abril de 2015

Notas de Abril


Os dias correm mesmo muito velozes, iguais a Abril, estão cheios de flores e são riscados por nuvens negras.

Em Abril e Maio deixamos a sala de aula para trás e trabalhamos num espaço comunitário, neste caso num Moinho de Maré. Hoje recebemos um grupo +65.

Como é fácil para eles meter as mãos na massa e fazer o pão. A cada punhado de farinha soltam-se as memórias de um tempo em que se fazia para durar para oito dias. Há quem seja neta de um moleiro, quem tenha passado a infância num moinho de vento, quem diga com facilidade a palavra maquia contrastando em absoluto com a dificuldade que os alunos tiveram em compreender o que significava. Transacções sem dinheiro, às vezes sem que estivessem sequer contratualizadas, confiava-se que o outro saberia dar o mais justo. 

No final da actividade também partilhámos o pão quente enquanto se fazia a avaliação, sentados em redor da mesa grande, alunos adultos e professores adultos olhos nos olhos num espaço informal. Nunca senti tanto respeito entre nós como neste momento, em que ao mesmo tempo que partilhávamos um lanche, cada um tomava a palavra e os outros ouviam sem se atropelar. Tão diferentes estão daqueles que conheci em Outubro, mais ou menos indiferentes a tudo, hiper focados no seu telemóvel, as aulas tão fora da sua vida que custava acreditar que soubessem minimamente o que estavam a fazer.

Cada dia que passa acredito mais numa escola de projecto, em que a aprendizagem é situada e nos entra por todos os sentidos. Tenho felizmente alguns espaços em que isto se torna uma verdade, se torna possível. Pequenas flores garridas, papoilas certamente.

Estava tão feliz no final do dia que nem dei pela dor de garganta que chegou de mansinho e se tornou mais e mais forte com a chegada da noite. Depois de escapar um Inverno inteiro, parece ser Abril que me traz arrepios e estes não são dos bons. Devia ter perguntado a um dos nossos convidados, de certeza que teriam um chá, uma mézinha, um caldo, quem sabe apenas uma palavra doce.

~CC~


quinta-feira, 16 de abril de 2015

Vem chuva, vem...


Há coisas fáceis que são tão difíceis. Coisas boas que podem ser más. Coisas belas que têm lá dentro um negrume. Não falemos do amor, pois esse é paradigmático disso tudo, um caso sério de tanta alegria e tanta dor. Dizem os do lado do sol que é só a primeira coisa mas os inimigos da perfeição, esse manto de inócuo, sabem que não é real sem chuva. 

Vamos a coisas mais simples.

Estou perante uma coisa boa: um convite para uma comunicação. Dentro desta coisa boa tenho coisas más para dizer, coisas que me doem, coisas que as pessoas não vão gostar de ouvir. Nos meus piores pesadelos elas levantam-se da sala e deixam-me ali, a falar sozinha. Eu saberia dizer coisas simpáticas, coisas boas, coisas que as pessoas adorariam ouvir. Já me aconteceu ser assim, ter na realidade histórias lindas de contar, saber que vou encantar, eu própria encantar-me. Mas desta vez só me ocorrem as coisas duras, difíceis e inquietantes. E eu estou  dentro delas, sou tantas vezes a impossibilidade de mudar a realidade como sou a possibilidade disso acontecer. Tento pensar em soluções para os problemas que vou apontar e ao contrário do que me costuma acontecer: brotam ideias até debaixo das pedras, sinto desta vez um grande vazio.

Deve ser o cansaço, a invasão da realidade.

Só me pode salvar uma boa dose de loucura ou a capacidade de encaixar o festim de tomates que aí vem ou, quanto muito, uns aplausos amarelinhos.

~CC~




quarta-feira, 15 de abril de 2015

As minhas tertúlias


Esta é ainda a parte do meu ofício que me dá gosto, falar com as pessoas num círculo em que há lugar para cada um, em que todos falam, em que as apresentações power point foram banidas, assim como a comunicação de via única (e com isto quero dizer, no formato clássico em que um só fala, os outros só ouvem e deixamos 5 a 10m para questões, em que dada a vontade de sair e tomar um café, as perguntas são quase inexistentes ou há comentários enfadonhos de quem queria ter estado a comunicar).

Esta tertúlia (feita 2 vezes para ser numa sala pequena) não foi fácil, fez-me doer o estômago, afinal foi sobre como é isto de acabar um curso e ser solto no mundo, nos meandros do IEFP, na europa do juventude em acção (há cada história), nos estágios profissionais de 9 meses sem perspectiva de mais...mas nem tudo foi desespero, houve também muita esperança, muitas sugestões partilhadas, muitas vidas desfiadas. Abracei antigos alunos e constato que sei o nome de cada um, não sei como os retive dentro da vertigem em que vivo, mas guardei-os.

~CC~








quarta-feira, 8 de abril de 2015

Apanhar as laranjas e os limões


Outra vez o telefone a tocar. O susto a aterrar nos nossos corações. O luto nem quinze dias tinha, como era possível querer voltar assim. 62 anos de casamento é uma vida, mas não seria preciso segui-lo para lhe provar o quanto gostava dele, bastavam os suspiros que lhe ouvíamos a toda a hora, um não saber onde estar, o que fazer, que rumo seguir. Vi-lhe bem as marcas de desorientação sob a resignação aprendida, o estou bem dito para descansar os outros.

Era morte a mais a rondar-nos. Felizmente ao longo da semana as coisas foram melhorando e a vida foi ganhando pouco a pouco. Este tempo foi sobretudo isso, fazer companhia a alguém só, mais só. Se eu sinto o quintal vazio, a casa silenciosa, imagino o que sentirá ela. É preciso continuar a apanhar as laranjas e os limões, não deixar que apodreçam no chão, fazer com que a vida vingue.

~CC~

quarta-feira, 1 de abril de 2015

Interesse declarado



Quantas páginas de Facebook valem a pena?

Esta é certamente uma delas :)



Leiam, inscrevam-se nas actividades, apareçam!

~CC~