segunda-feira, 17 de dezembro de 2018
Dezembro (2)
Só há dois meses no ano em que tenho pena de não poder beber.
Em Agosto um gin tónico ao fim da tarde.
Em Dezembro um vinho quente com bagas de romã e um pau de canela.
No resto dos meses, passo bem, obrigada.
~CC~
sábado, 15 de dezembro de 2018
Dezembro
Dezembro estava a fugir-me entre as mãos, tão, mas tão rápido que mal distinguia os dias das noites.
A melhor coisa foi que naquele dia decidi que ia parar. Tu marcaste a massagem e combinámos ir as duas ao fim da tarde. O hotel ficava numa rua de Lisboa onde nunca tinha passado, uma rua coberta a amarelo de folhas de árvore, metade de cada uma delas ainda tinha folhas e a a outra metade já se tinha despido, uma rua linda de um lugar ainda sem turismo. Olhando cada bocadinho de árvore, pensava em como, ao contrário de nós, as árvores se despem para enfrentar o frio.
O hotel era num palecete antigo, com jardins desenhados em múltiplas espécies e uma piscina no exterior e outra quente no interior, tudo coberto de uma patine antiga. Não fiz, contudo, o circuito de águas. Entrámos directamente para a tisana de laranja a que se seguiu a escolha dos óleos que seriam aplicados na massagem. Um deles tinha um cheiro doce e suave e ambas o escolhemos. Na sala a meia luz, de cortinas corridas e música suave, tive o meu primeiro susto: era demasiado fechado para eu poder ficar. Mas controlei-me e fiquei. Nunca tinha experimentado. Foi uma das melhores meias horas da minha vida, é um prazer diferente de todos os outros e este ainda não tinha sentido. Parece que o nosso corpo tem ossos e músculos e articulações que não conhecemos, mas tem sobretudo pele e a pele comporta um mundo de sensações.
Depois veio o repouso, o chá e os bombons de maracujá. Senti vergonha da minha felicidade, de me sentir tão estupidamente repousada e feliz. Num mundo que nos confronta com tanta coisa negativa compreendo a minha vergonha como parte da minha responsabilidade por nele viver, é como se não tivéssemos o direito de nos sentir assim, mas ao mesmo tempo penso que não posso mudar nada se não estiver bem, se não souber ser feliz com o que a vida me dá. Dezembro dá-me sempre esta sensação de um mundo dividido em dois, de uma humanidade a mostrar-se no que ela tem de melhor e pior.
E quando saí tinha começado a chover, as luzes iluminavam a água, as ruas estavam brilhantes e bonitas e já não tive tantas dúvidas, precisamos de felicidade para nos sentirmos fortes para mudar seja o que for.
~CC~
domingo, 9 de dezembro de 2018
Terapia
Vai a um mercado de rua ou, se não o tiveres, a outro, ou mesmo a uma mercearia.
Procura as maçãs casanova* e compra um quilo. Corta- as em quatro metades, com tempo, tira a casca se te apetecer, se não passa apenas por água. Saboreia uma a cada fim de tarde de Inverno. Depois conta-me do sabor.
~CC~
sexta-feira, 7 de dezembro de 2018
Como um lagarto
Sou fácil de contentar. Um dia destes de sol de inverno e fico feliz. Mesmo que tenha que ir trabalhar. Qualquer intervalinho é um tónus de vitamina D, viro a cara para o sol e estendo-me interiormente como um lagarto.
~CC~
segunda-feira, 3 de dezembro de 2018
Procura uma árvore
Quando te sentires só procura a companhia de uma árvore assim. Abriga-te debaixo dela e sente o modo como os pássaros fizeram dela uma casa. Verás que pode ser também o teu abrigo. Se procurares bem sentirás o coração dela a pulsar, coloca uma mão no seu tronco e outra no teu coração. Nessa conexão verás que o mundo vai muito para lá dos seres humanos.
Quando estiveres com amigos, se tiveres um filho ou uma filha, sejam eles pequenos ou grandes, leva-os até debaixo de uma árvore assim e ri com eles, ou cantem, ou comam alguma coisa ou façam tudo isso. Conheci um dia uma árvore como esta onde uma aldeia, depois uma vila inteira celebrava a sua festa. O carvalho assistiu aos meninos a crescer, viu várias gerações a tornarem-se homens e mulheres, aposto que encobriu primeiros beijos. Este Sobreiro estava tão perto de mim, infelizmente só se tornou visível quando decidiram divulgar a sua beleza ao mundo. Mas agora voltarei mais vezes para conversar baixinho com ele, confiar-lhe sorrisos e lágrimas.
~CC~
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