Férias são também filmes e livros.
Infelizmente durante o ano leio pouco, apenas artigos e livros de carácter técnico. Filmes vejo, sem eles não consigo passar.
Estranhei as duas estrelas de Longe de um homem, o filme é belíssimo. Infelizmente o (meu) Charlot só o tinha na sessão das 18h de Quinta e Sexta, ainda assim a verdade é que se apanham relíquias nestes fins de tarde de um cinema (pouco) comercial desta cidade de província e valha-nos o cinema não fechar em Agosto. Um argelino francês é argelino para os franceses e francês para os argelinos, este drama de nascer e crescer em terra de outros, foi vivido por muitos ocidentais no tempo colonial e não foi ainda devidamente explorado, este desenraizamento de não ter lugar nenhum que se possa chamar de seu. As relações que se tecem com o "outro" que já foi nosso irmão e nosso amigo e agora nos diz olhos nos olhos que nos mata se for necessário. É a não perder, tão lindo como pode ser também a história de uma amizade em tempo de guerra.
Li o último do Umberto Eco: Número zero. Fiquei com a sensação de que deveria saber ler em italiano, a tradução não me convence muito, alguns lugares comuns que duvido que existam na língua mãe do livro. Uma ideia fantástica mas a exploração deixa um pouco a desejar, talvez porque tenha querido escrever um livro de menor dimensão, ele que escreve livros de muitas páginas. Não desgostei, o autor é competente a contar uma história, mas não me maravilhei.
Depois peguei casualmente na Fera na selva, do Henry James, um clássico que ainda não tinha lido. E encantei-me totalmente não só com a história mas com a escrita, um modo de escrever que já não se encontra, uma capacidade de descrição dos estados interiores das personagens que é sempre acompanhada do modo como esses sentimentos se deixam também ver fisicamente. Mestria no uso da palavra. Maravilhosa a história de um livro sem história, todo ele é um vazio e é esse vazio feito mistério que nos prende. Alguém passa ao lado da vida porque passa ao lado do amor, é esse vazio de alguém incapaz de amar que nos dói do princípio ao fim, mais no fim, quando percebemos com o personagem que tudo o de grandioso ele esperava na sua vida e não tinha acontecido, afinal há muito existia sem que desse por isso, a mulher ao seu lado, o seu encontro. Mas a forma como o descobre é magnífica, ele vê noutro o desgosto de amor pela morte do ser amado, um desgosto que na mesma circunstância ele apenas sente aflorar. A dor de alguém que perdeu para a morte alguém que ama é de uma imensidão atroz e é do vazio dessa dor que ele surge monstruoso. Tao bom como o "Retrato de Dorian Grey", embora trez vezes mais pequeno.
Depois peguei casualmente na Fera na selva, do Henry James, um clássico que ainda não tinha lido. E encantei-me totalmente não só com a história mas com a escrita, um modo de escrever que já não se encontra, uma capacidade de descrição dos estados interiores das personagens que é sempre acompanhada do modo como esses sentimentos se deixam também ver fisicamente. Mestria no uso da palavra. Maravilhosa a história de um livro sem história, todo ele é um vazio e é esse vazio feito mistério que nos prende. Alguém passa ao lado da vida porque passa ao lado do amor, é esse vazio de alguém incapaz de amar que nos dói do princípio ao fim, mais no fim, quando percebemos com o personagem que tudo o de grandioso ele esperava na sua vida e não tinha acontecido, afinal há muito existia sem que desse por isso, a mulher ao seu lado, o seu encontro. Mas a forma como o descobre é magnífica, ele vê noutro o desgosto de amor pela morte do ser amado, um desgosto que na mesma circunstância ele apenas sente aflorar. A dor de alguém que perdeu para a morte alguém que ama é de uma imensidão atroz e é do vazio dessa dor que ele surge monstruoso. Tao bom como o "Retrato de Dorian Grey", embora trez vezes mais pequeno.
Aceito sugestões, embora tenha entrado em regime de semi-férias.
~CC~
Obrigada pelas sugestões. Filme e livros ficam na minha lista.Tenho pena que só possa entrar numa sala de cinema se fizer mais de oitenta quilómetros.
ResponderEliminarOfereci, há dias, o Número Zero, mas ainda não o li. Nos últimos tempos tenho lido mais do que o habitual. Deixo algumas sugestões: "Stoner" (John Williams),que tem como protagonista Stoner, um rapaz humilde da província, que se torna professor universitário; "A Catedral do Mar" (Ildefonso Falcones), cujo cenário é Barcelona do final da Idade Média e que tem como fulcro a construção de uma catedral dedicada a Santa Maria Del Mar, pelo trabalho árduo dos homens do povo e com o dinheiro de alguns burgueses; "A Sétima Porta" (Richard Zimler), narrado por uma mulher que viveu o início do nazismo e a Segunda Guerra; "O Bom Inverno" (João Tordo), cuja acção decorre em Praga e em Itália e cujo narrador-protagonista é um escritor falhado, que se envolve numa situação que conflui numa série de crimes - ainda que tenha sangue demais para meu gosto, não deixa de ser interessante.
Boas férias e boas leituras. :) Um abraço.
Obrigada Deep, os dois primeiros não conheço, os dois últimos sim. Do Zimler sou fã, do Tordo nem por isso. Mas do Zimler já li mesmo tudo, estou à espera do próximo :).
ResponderEliminarBoas leituras também para li, para além das colheitas que são sem dúvida uma maravilha :)
~CC-