terça-feira, 12 de julho de 2016

A festa



Como qualquer cidadão de um país pequeno, periférico, intervencionado pela Troika, eternamente ameaçado por sanções dos que se dizem protectores e amigos, festejei  a vitória de Portugal.

Metade da minha festa não tinha nada a ver com futebol, a matéria que a alimentava a alegria era feita das lágrimas dos pobres, tão parecida com a raiva que sentem os povos mais humilhados do mundo., eternamente espoliados da sua riqueza pelos mais poderosos. Se calhar não devia ser assim, não era nada disto que devia sentir, mas na verdade quase nada no mundo devia ser assim.

Por isso de nada me servia a rua nem os gritos dos outros, o que eu sentia era íntimo e pessoal, talvez impossível de partilhar. Para além disso a noção clara de que sentimentos próximos da palavra vingança são terrivelmente feios, não servem de nada, nem sequer a luta política que, quanto a mim, deve ser serena e racional. 

É melhor deixar a festa sem as minhas contradições, dúvidas e hesitações.

~CC~

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