terça-feira, 15 de maio de 2018

Nostalgia tonta




Saí muito cedo e para um lado diferente daquele para o qual costumo ir na cidade. E encontrei uma fila inusitada que me obrigou a procurar uma justificação para tal. E percebi: era o caminho do liceu (sim, toda a gente ainda o chama assim). Eram os pais que iam levar os filhos. E de repente a minha vida regressou ao tempo em que também eu fazia o mesmo contigo. A nostalgia tomou conta de mim, o que costuma ser raro, nunca vivo no passado e raramente me emociono com ele. Talvez esteja mesmo a envelhecer. Revi-te ali ao meu lado, ensonada, contrariada por teres de te levantar cedo, com qualquer coisa esquecida em casa ou no banco de trás. Nem posso chamar saudade ao que senti, foi mais uma dor fininha de saber que há certas coisas que não voltarão jamais a ser o que foram, que a tua companhia vai ser sempre como é agora, um tempo entre muitos tempos da tua vida. Por certo não voltaremos a viver juntas. E lembrei-me da minha mãe, da agitação que era a vida dela com tantos filhos e netos e de como tudo isso se foi e agora está tão sozinha. Compreendi-a melhor e percebi que só essa compreensão vivida do sentimento do outro pode gerar afecto.

Depois estendi o braço para me retirarem sangue para as análises. E pensei que talvez pudesse deitar uma lágrima como se fosse por aquela dor e não pela outra tão tonta que sentia.

~CC~

3 comentários:

  1. Ainda assim, as equimoses de alma, tal como as feridas e as dores fininhas, pedem mais ar livre do que maquilhagem. Amanhã é ir por outro lado.

    Como vai, CC?

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  2. Ah Impontual, ir para o outro lado da cidade é medida muito sensata:) Mas olhe que chorar fez-me tão bem, há tanto tempo que não o fazia.
    Susana, belo de triste:) Mas já passou.
    ~CC~

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