É talvez das minhas melhores estudantes. Gosto genuinamente da sua honestidade.
Vejo-a do outro lado do écran mais de uma hora, pediu-me para a ouvir. Limpa frequentemente as lágrimas enquanto fala. Sinto a cada momento que era preciso desfazer um por um todos os mitos que a fazem sofrer. A pressão tremenda do sucesso escolar, a lógica do trabalho ter que inspirar felicidade, essa ideia de realização profissional com a qual todos crescemos, a trágica fantasia de que queremos de alguma forma marcar o mundo e não nos diluirmos na massa anónima (algures, por ali o célebre empreendedorismo), tudo acompanhado por não conseguir escolher, por não saber o caminho. Tudo o que eu digo tem os anos e anos que ela não tem, por isso temos dificuldade em compreender-nos. Repetidamente lhe digo que só tem 23 anos e o mundo ainda terá múltiplos caminhos, múltiplas escolhas e raramente poderá saber se fez a certa, mais vale aprender a gostar da que fez. Digo-lhe que é bom gostar de tantas coisas, poder simplesmente ter caminhos, há quem não veja nenhum. Tento sobretudo diminuir-lhe o sofrimento.
Como terminamos sem que lhe veja aparecer um sorriso e me sinto extremamente cansada por ter tido uma jornada longa, eu própria duvido que tenha tido algo êxito. Ainda assim, sinto o conforto da sopa quente e de ter tentado. Afinal talvez seja isso que me diferencie dela, chega-me perfeitamente o consolo das coisas pequenas que os dias me trazem. Já não sofro por ser apenas alguém na massa anónima, aceito-o e tento ver nos meus semelhantes, sobretudo nos mais simples, nos mais desprotegidos, a grande companhia de quem com eles atravessa a jornada. E é nesse laço que encontro grandeza.
~CC~
O seu a seu dono, CC. Ela ainda não chegou ao cerne das pequenas coisas; na sua idade (dela), mesmo quando se afirma o amor às pequenas coisas, nunca se excluem as grandes. Na nossa, só as pequenas contam. Coisas.
ResponderEliminarBFS
Talvez Bea...não sei bem, confesso que me pôs a pensar se será uma questão de idade...mas a ser, não será só.
Eliminar