Todos os dias da última semana apanhei o autocarro com o mesmo número, saí naquela paragem e desci aquela escada. Guardo tantas e tantas imagens destes dias, desta vida outra que temporariamente vivi. Absorvi do mundo tantas viagens aos mundos dos outros, esta foi mais uma.
No fim da escada todos os dias, pelas 8h30m, aquele jovem de pele morena, pés nus nuns chinelos pretos, cigarro com cheiro muito intenso. Nunca nos olhámos e ainda assim soube que a tristeza era a sua morada.
Pelo contrário, a miúda negra vinda dos bairros difíceis e que mais participava nas aulas, disse-me com uma convicção duas vezes do seu tamanho: eu quero continuar a estudar, vou ser advogada como estas professoras que nos dão aulas.
Há uma linha ténue e muito difícil de explicar entre quem consegue e não consegue, hesito muito nas explicações mais fáceis, há sempre um conjunto de coisas e não um milagre, nem a obra de uma pessoa única que aparece na vida de alguém ou tão só uma escola, um/a professor/a ou um desígnio. E ainda há que desembrulhar as palavras: conseguir, superar, ter êxito. A princípio aceitamos a sua simplicidade, estes miúdos diziam-nas na sua essência básica, só mais tarde vamos vendo tudo de um lado e do seu avesso ou pelo menos é o que me acontece.
~CC~
Sabemos como este regime perpétua a situação... convém.
ResponderEliminarDiz bem "regime" pois é muito mais amplo do que o governo A ou B.
EliminarDiria que vencerá quem na fragilidade encontrar a força. É uma asserção bonita, mas não sei CC, aliás com a idade tenho cada vez menos certezas. Talvez acabe por vencer quem teve ajuda de pais, professores, orientadores, muita força de vontade, possibilidades, genes ou inteligência, ambiente e sorte, muita sorte.
ResponderEliminarGosto dos seus olhares sobre a grande cidade.
Os cientistas querem sempre descobrir o segredo das coisas que funcionam, até os cientistas sociais...mas a complexidade é de um outro nível, afinal bem mais difícil do que foi encontrar uma vacina para o SARS-COV-2. Foi bom mas estava cheia de saudades da minha pequena cidade.
EliminarDigo: convém-lhes.
ResponderEliminarSem uma ajuda sequer, não conheço ninguém que tenha conseguido. E não menosprezo o trabalho de cada um, o esforço, a perseverança. Nem a sorte que também conta.
ResponderEliminarVejo esse objectivo de ultrapassar dificuldades e entrar noutro meio, pertencer-lhe, como uma alegria por vir. É um advento da vida. Pode iluminar. Ou ser triste em demasia. As causas de um e outro modo jogam-se num todo que não sei se somos capazes de entender.
Certo é existirem direito e avesso, como a CC tão bem viu. Até em cada um de nós.
Bom Dia:)
Querem-nos convencer que tudo é obra do individuo e que se ele quiser consegue (é nisso que reside a moderninha ideia do empreendedorismo). Mas não é bem assim, é muito mais como diz a Bea. Boa semana!
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