sábado, 8 de março de 2025

Para a Z com ternura

 


Conheci a Z com os seus pequenos vasos de planta já era uma mulher velha. Agora sei que mal sai da sua casa e apenas visita a sua pequena estufa, construída com as suas mãos e as de um dos filhos, artesanal, com muitos troncos e plásticos recolhidos. Encantou-me às primeiras palavras sobre as suas plantas. Disse-me que nunca tinha aprendido a ler nem a escrever. Não gosta de muitas perguntas e só à medida que a fui conhecendo e com ela me cruzando é que me contou mais coisas. Uma vez aceitou vir à academia e pedi-lhe que falasse com os meus estudantes de como era viver neste mundo sem saber ler nem escrever. Contar o básico, Z sabe. E sabe porque vendia todas as semanas os seus vasinhos no mercado e com isso criou os cinco filhos. Enviuvou cedo e todos ficaram a seu cargo. Como é possível criar cinco crianças com uma pequena estufa de plantas? Z conseguiu e com quanta dignidade. Fizeram um pequeno documentário sobre ela e levaram-na a vários encontros, uma vez até à televisão. Mas nada nela mudou com isso, conta-o a rir e diz que não quer ser famosa. Todas as plantinhas que trouxe da sua estufa não sobreviveram, todas vinham com as indicações dela a nível medicinal e de cuidado, mas faltou-lhes Z, o calor e a sabedoria dela. De mulheres como ela se fez este mundo, formigas voadoras que sustentaram casas.

~CC~




2 comentários:

  1. Parece-me que hoje, quase todas, embora em condições menos adversas, continuam a sustentá-las (às casas) e a encher de flores a vida dos que as rodeiam. Essas são as Z que celebro sempre.

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  2. Será destas grandes mulheres que o mundo é feito.
    Como tudo seria diferente se fosse com estes exemplos que a comunicação social se ocupava.
    Bonita história, que só a CC consegue descrever

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