sexta-feira, 7 de novembro de 2025

É apenas a beleza

 

A conexão com a natureza é o centro ao qual volto, volto sempre.

E levo-os comigo, semente que quero deixar-lhes.

Ontem, porém, a miúda disse:

- Professora, mas isto está tudo sujo.

Olhei em volta e só vi lama, muitas folhas caídas e imensos paus, resultado da tempestade de quarta feira.

- Onde vê sujo?! E ela apontou a lama, as folhas e os paus.

- Mas é apenas a beleza do Outono, respondi.

Foi isto que lhes fizemos, nós os adultos que os deixámos ficar nos quartos entregues aos seus écrans. 

~CC~



6 comentários:

  1. Oh! A beleza do Outono nos restos de tempestade é difícil de ver. Também não a enxergo muito bem, sobretudo quando os tenho de varrer e arrumar. Esse sintoma não tem de ser necessariamente derivado de um écran sempre ligado. Ou tem?!
    Bom fim de semana, CC

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    1. Talvez não apenas disso, há muitos factores. Mas estávamos num jardim Bea, um dia depois da tempestade. A palavra lixo não combinava com a beleza do tapete de folhas de plátano. Mas também houve um bocadinho de esperança, cheguei a uma árvore que era como as da minha infância, boa de subir, e disse-lhes: podem subir à árvore. E não é que alguns foram?!

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  2. eis um texto tristemente real.
    está longe a busca pelas amoras silvestres, o chapinhar na lama, até mesmo o vale de Santarém com o Carlos e a Joaninha à sombra de um cipreste.

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    1. Está longe o quintal da minha infância, os pés descalços, as construções de terra, as bolas de sabão sopradas da cana de mamoeiro...mas tudo tão perto também. Obrigada por vir e partilhar

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  3. Onde uns apenas vêem lixo, outros possuem a arte de ler o outono!
    Porém, os miúdos, por vezes vêem muito para lá dos adultos, como na história que acabei de ler na semana passada.
    Uma história aparentemente simples, quase infantil, mas luminosamente redentora, de um pai de família que decide criar um porco num apartamento para posterior matança enquanto os seus filhos se afeiçoam ao bicho e fazem tudo para impedir a sua morte.
    Li com bastante agrado e à distância, senti o apelo daquela criança: "quem me dera ser onda e correr mundo e mares e rebolar na areia transformada em espuma e esquecer que o mundo é dos adultos..."
    Muita metáfora e muita luz da terra que a viu nascer CC.
    Obrigado pela sugestão feita há já algum tempo e que só agora se proporcionou.

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    1. Lindo, lindo...um dos livros da minha vida, sem dúvida. Mas esses miúdos...eram outros miúdos. Ainda assim acredito que muitas crianças de hoje tenham coisas também bonitas para nos ensinar. E mesmo os meus jovens: afinal como disse ali à Bea, meia dúzia deles subiram à árvore e raparigas também.

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