As aulas são hoje espaços onde nos encontramos muito pouco com os nossos estudantes, são sobretudo lugares quase nulos do ponto de vista da transformação dos jovens em adultos. Eu gosto mais dos processos de tutoria, que iniciei muito antes de Bolonha os ter inscrito nas nossas obrigações docentes. Só que as tutorias são hoje espaços de risco emocional. Ontem, um jovem de 20 anos, quase homem feito, até porque já é autónomo, mostrou-me várias vezes os olhos cobertos de lágrimas. Os pais já morreram e vive com a irmã. Endividou-se para pagar o curso. Vive com 300 euros por mês, cerca de 250 vão para as despesas da casa, sobram-lhe 50 para tudo o resto. As colegas organizaram uma venda de bolos e salgados para arranjar dinheiro para um projecto que andamos a fazer na comunidade. Ele não podia trazer nada, contudo, transformou papel velho em carteirinhas e montou uma banca para ensinar as pessoas a construí-las. Ele é resiliência em estado puro. Ele é o tempo que respiramos - negro e vermelho.
~CC~
Ele é um sobrevivente
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