quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Atravessar


Há tanto tempo que não entrava num bailarico de aldeia, ocupando a mesa com a bebida e as passas, enquanto se espera pela coragem de ir dançar. A pista de dança é sempre primeiro dos meninos e mais tarde dos pares na casa dos sessenta. Pergunto-me como vim aqui parar, supreendida com a minha própria vontade de espantar a espessa tristeza que anda colada à minha pele. É preciso nunca deixarmos de nos inventar, de nos surpreendermos a nós próprios. Cada volta dada, cada pirueta,  cada abraço de quem está aqui, tem a dose do antidepressivo certa sem conter nenhum químico.
 
Depois olho-a e vejo que foi o melhor que lhe dei em muitos anos. Ela deve ser a mais velha e como dança no salão da casa do povo, dobrando com um sorriso este ano maldito. No Natal este ano todos falaram em partir, só ela se manteve no silêncio, perguntando mais tarde para onde iam todos afinal. Estamos ainda aqui, pelo menos para ela este ano terminou sem solidão.
 
A chuva deixou tudo molhado e permite-me umas lágrimas. No dia seguinte está sol e permite-me um sorriso.
 
~CC~
 

3 comentários:

  1. Voltarei.Obrigada por aceitar a minha amizade:)
    Bom 2013. Uma lágrima só é triste porque se lhe conhece, num outro momento, a existência de uma lágrima alegre.A vida é binária.
    cs

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  2. A vida é mesmo assim!!
    Neste país e nesta altura, não há quem não queira partir ...

    Foi mesmo fantástico!! E vê-la assim, com aquela alegria e vitalidade, foi contagiante e regenerador.

    Beijinhos mto grds e um xi-apertadinho

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  3. CS, sem dúvida...mais, acho que só porque estarmos tristes conseguimos um dia estar alegres.

    Querida Margarida :)

    ~CC~

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