terça-feira, 15 de janeiro de 2013

A vida dos outros



Lembram-se do cinema Paraíso?
 
Hoje fui dar com uma história idêntica, ocorrida no teatro da minha cidade. Um casal viveu num apartamento minúsculo no último andar do teatro durante mais de vinte anos, aí nasceu uma criança e cresceu a brincar nos bastidores e a esconder-se entre as cortinas do palco. Nunca tiveram férias nem fins de semana, ele descia sempre que necessário, ela vinha ajudar como podia. Nada do que foi a vida daquela família poderia hoje ser, o edifício antigo degradou-se até ao limite do possível e as regras de segurança do que foi reconstruído não se fizeram à medida dessa história, não a albergaram. Não gosto do que desaparece e não se regista para o futuro, não gosto do que as paredes escondem e não deixam ver.
 
Hoje há no último andar e recentemente aberto um café com uma vista linda sobre o rio. Olho-o até ao seu limite e vejo o outro lado, recordo-me então como há um ano atrás também ouvi as incriveis histórias das mulheres que iam pescar com os seus homens no estuário. Recordo o esforço que fiz para as ouvir sem que os meus olhos se enchessem de lágrimas que elas não iam entender. Baixavam a voz e riam para falar do sexo dentro dos barcos (ai, ai às vezes os barcos abanavam). Uma delas contou como a filha nasceu dentro do barco.
 
 
 
Tenho o enorme privilégio da minha vida se ter sempre enchido de histórias assim e delas me terem ajudado a descentrar-me da minha própria vida, ela torna-se mais especial quanto mais se aumenta por tudo quanto é diferente de mim. Apaixono-me por tudo o que é genuíno.
 
~CC~

2 comentários:

  1. Fórum Luisa Todi (onde vivia a família)
    Comporta/carrasqueira (onde vivem ainda as mulheres pescadoras)
    Quer vir cá fazer reportagem? Qualquer uma destas coisas merecia um documentário...soubesse eu fazer...
    bjs
    ~CC~

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