Juntas à roda da mesa com os cabelos bem penteados e os rostos pintados suavemente. Ao canto de um dos cafés mais emblemáticos de Lisboa e de gente que outrora foi rica, agora já não sei.
Elas tomam o chá como se nada neste mundo pudesse perturbar o ritual que lhes está entranhado no sangue quase azul. Uma delas parte o bolo de chocolate, talvez seja ela que faz anos. Não cantam contudo, nem há velas. Sorriem de modo doce e com cumplicidade e falam baixo. Talvez se juntem todas as terças para poderem saber como envelhecem. Talvez comemorem alguma coisa e por isso tenham trazido as flores que estão na mesa. Se calhar festejam sem nenhum homem por perto o dia do pai, na ausência daqueles que foram os seus pais ou pais dos seus filhos.
É uma mesa bonita, composta, são talvez mulheres que foram na vida apenas esposas. O modo como nada ali parece fora do lugar ilustra bem a classe social, o mundo em que viveram. Com que olhos poderão encarar o andar no prédio em frente que diz: casa em leilão. Já não se vende, já não se aluga, o banco simplesmente faz um leilão. Será que alguma delas é senhoria? Inquilina?
Aparentemente não sofrem, sorriem docemente como se o mundo delas não fosse aquele mesmo em que vivemos nesta danada convulsão.
~CC~
Vila Real, Verão de 2012
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