segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

Das cerejas



Ensaio para mim própria uma nova área do comentário político. Se os expressionistas fizessem comentário político, o que diriam? Se os poetas fizessem comentário político, como o fariam? Se os músicos usassem os seus instrumentos para exprimir o que acontece neste momento, que melodia sairia? Qualquer coisa que pudessem dizer iria soar melhor que Marques Mendes, Marcelo Rebelo de Sousa ou Miguel Sousa Tavares, para falar das estrelas mais antigas e não das mais jovens que saltam todos os dias para a ribalta sem que saibamos porquê. Já não suporto o comentário político.

Eu, por exemplo, penso em cerejas cada vez que se fala na Grécia, não apenas pela semelhança sonora com o nome do partido que ganhou as eleições. As cerejas são vermelhas, redondas, sumarentas e lembram o Verão. Têm a doçura dos frutos que chegam com o calor e se comem inteiros, o brilho de um tempo que começa. Há quem as diga demasiado calóricas, arma letal para a boa forma. Mas a boa forma é um conceito tão imposto e tão dominante que os desalinhados não deixarão de as saborear plenamente. As cerejas são arma contra o desespero, uma espécie de vitamina esperança. O seu fulgor talvez dure pouco como acontece com todas as frutas de Verão que em geral desaparecem em três semanas, já o sabor perdura e faz-nos ansiar por mais. 

E então? Não é um bocadinho melhor do que o Marques Mendes?

~CC~

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