sexta-feira, 15 de maio de 2015

Em viagem


Mais uma saída em trabalho. Quatro dias para conhecer uma escola, saber como é, o que quer ser. Gosto tanto disto, gosto tão pouco disto. Não consigo explicar-vos mais, tem os dois lados lá dentro.

Dias repletos de gente, tanta coisa para ouvir, para ver, para conhecer. Metade do que se diz é desperdício, esse excesso é que me cansa, mais palavras vazias e poderia desmaiar. Retenho algumas, palavras ditas mais devagar, apenas alguns rostos expressivos, quase sempre as crianças. Alguns adultos de sorriso bom, o chefe de pessoal não docente que sem curso nenhum daria uma lição a muitos gestores, o funcionário que planta as batatas especiais e tem sorriso de menino. Há vozes de cordeiro, há vozes de lobos. Gente que vale a pena, gente que vale pouco a pena. Lutas, conflitos, dificuldades. Também coisas lindas, tão lindas que emocionam como a máquina que as crianças inventaram para apanhar as moscas.

Entre tantas coisas para absorver, ligam, mandam mensagens de trabalho, querem coisas. Nenhuma, ninguém me pergunta se estou bem, onde ando, se estou triste ou feliz. Há algumas coisa que estou a fazer mal com a minha vida ou todos nós andamos deste modo? Porque é que só viajo em trabalho e não pelo sabor do vento ou da paisagem? Porque é que trabalho tanto e conta do banco está quase a zero? Porque é que só recebo recibos pelo correio? Porque é que só me ligam por trabalho? Porque é que digo sim quando quero dizer não?

Ao fim do dia ou pela manhã só a imagem verde azul do campo mar me trazia alguma paz. E saber que te deitarias a meu lado, enrolado no meu cansaço.

Agora há silêncio e tudo parece tão distante.

Oiço este silêncio e tento saber se o meu coração bate, se ele pulsa, o que me diz, para onde quer ir.

~CC~





2 comentários:

  1. Eu diria que muito mais de metade do que se diz é desperdício. Deixamos de saber valorizar o silêncio e pequenos gestos de gentileza. Muitas pessoas só têm sorrisos e palavras amáveis para as pessoas a quem convém agradar. Trabalho há muitos anos no mesmo lugar e dou comigo a fazer retrospectivas e a perceber como o tempo inchou de soberba e de indiferença algumas pessoas.
    Há que ir aproveitando as paisagens e as raras pessoas que se importam.

    Um abraço aqui deste mar de pedras e votos de bom fim-de-semana.

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  2. Na procura do dia em que eu limpe o pó do telefone de casa que, ao tocar, me trará um "bom dia, como se sente hoje?" genuíno, não mascarado por vendas, semi-vendas, alugeres ou empréstimos. Só dois dedos de conversa.

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