domingo, 6 de setembro de 2015

Boas notícias que ainda assim me deixam a pensar...



Há quem ache que não vale a pena estudar no ensino superior, alegando que o desemprego é o fim do caminho de um licenciado. É verdade que aumentou o número de licenciados desempregados, contudo, esse número, se comparado percentualmente, é inferior ao dos não licenciados. Permanecem, em geral, menos tempo no desemprego ou empregos indiferenciados e mal pagos, o que não quer dizer que não os tenham, ou que alguns não fiquem lá. Vejo com bons olhos que todos estudem, independentemente do tipo de curso que tiram, só num estado dirigista e autocrático, essas escolhas se devem condicionar ou moldar de acordo com obscuros e falíveis interesses do mercado. E em Portugal isso já acontece, fecham os cursos com menos de 10 candidatos durante três anos seguidos. Se mesmo esta medida pode ser questionável, dada a singularidade de algumas formações, mais do que isto parece-me perigoso, embora se esteja a anunciar. O valor da formação não está apenas no caminho que proporciona em direcção a um emprego, há mais e esse mais é difícil de medir, trata-se de uma transformação que se vê num conjunto de competências que passam pela comunicação, consciência, cultura. 

Os números que apontam para uma subida de alunos no ensino superior deviam assim deixar-me feliz (até porque trabalho lá), no entanto, olhados com alguma atenção, espantam. Sabemos que a natalidade não aumentou, que não há mais gente a estudar no secundário e que as condições de vida das famílias não melhoraram de um ano para o outro, de forma a que aqueles que não podiam estudar, o possam fazer agora (aposto que o governo ainda vai explorar este filão). O que me parece estar a acontecer é que a retenção no ensino secundário por força de exames de extrema dificuldade se atenuou. Talvez o ministro recuse a ideia de que este ano os exames foram fáceis mas os dados não mentem, trata-se de subidas significativas, de um a dois valores em provas decisivas. Houve mais alunos a conseguir concluir o ensino secundário e logo em condições de candidatura ao ensino superior. Há assim que interrogar as coisas, indagar em vez de simplesmente nos congratularmos. Para mim é grave que os exames possam condicionar as coisas deste modo, não invalidando o exame como forma de controlar as grandes diferenças que possam existir na atribuição das notas entre instituições de ensino. Por outro lado, mesmo que pareça teoria da conspiração, não deixa de ser estranho que os exames tenham sido mais fáceis em ano de eleições. As boas notícias para o governo são óptimas antes do voto. 

~CC~


NOTA: Independentemente das minhas questões e por lhe reconhecer o mérito e o esforço, estou muito feliz porque a minha filha entrou em Medicina, na instituição que era a sua primeira opção.


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