segunda-feira, 21 de março de 2016

Homenagem


Com Caeiro
amo as estevas altas
o cheiro fresco e lavado das flores brancas
o bem inteiro que a natureza é

Com José Gomes Ferreira
vejo os eléctricos amarelos
cheios de mulheres de cabelos de chuva
paredes meias com incêndios de sol

Com Eugénio de Andrade
estou numa laje de pedra junto ao rio
onde corpos adolescentes
descobrem que há Primavera

Com Sophia
chegam deuses gregos
ilhas e paredes caiadas de branco
uma voz que sabe ao meu sul, todo esse mar

Com Rosário Pedreira
o amor faz-se luto
e a luz é uma nesga
que chega entre livros extraordinários

Com Peixoto
a luz e a escuridão embrulham-se
em vozes roucas de vinho de aldeia
latidos tristes de cães

Com Mário Henrique Leiria
o gin vem com o poema e dentro dele
e o riso é solto
um bocadinho amargo

Com Herberto
o corpo é tenso e dói
as bocas são feitas de raízes
e é assim que se beijam

Com  O´Neill
chega o portugal tristezinho
soletrado em sílabas pequenas
que nos fazem pensar

Com Adília Lopes
posso falar da minha máquina de lavar
eternamente avariada
um prejuízo no meu lar.

E acabo com as palavras do poeta com que comecei, são dele e afinal são do meu amor porque as palavras dos poetas foram feitas para serem roubadas e ditas ora alto como um grito, ora baixinho como uma carícia.

" O amor é uma companhia
Já não sei andar só pelos caminhos"

~CC~




3 comentários:

  1. Bela homenagem,CC. :)

    Feliz Primavera... com muita poesia. Beijinhos

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  2. Bolas... por vezes a tua inspiração arrepia-me! Feliz a realidade de conhecer uma deusa das palavras, das virgulas, dos pontos soltos...
    Sorri da minha varanda, com vista para a serra, que já é minha

    o teu leitor

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  3. Um belo poema com poetas dentro
    Parabéns!

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