domingo, 8 de maio de 2016

Um velho escultor


O que fazemos é lutar contra o tempo, contra o pó que ele traz e se insinua nas coisas e nos corpos. 

O desgaste das coisas entranha-se tanto nos objectos como nos equipamentos, depois de 10 anos tudo parece precisar de ser trocado nesta casa. A máquina de lavar avariou várias vezes. O chão que aparentava ser uma coisa moderna, mostra ruir nas suas várias ligações entre as partes da casa, o alumínio do lava loiças está a escurecer a olhos vistos e a loiça da casa de banho adquiriu um tom amarelado que nem a lixívia, se usada todos os dias, parece capaz de tirar (acresce que odeio o cheiro). A luta contra o tempo a degradar a casa exigiria uma batalha diária que sou incapaz de travar. Debato-me assim entre a impotência e a luta, ora num lado, ora no outro.

Isto é também o que acontece nos nossos corpos por dentro e por fora. Uma nódoa negra não custa nada a fazer e demora a curar. Uma dor no ombro prolonga-se por dias. Já os cabelos brancos, esses não se querem esconder e disseminam-se como se fossem cogumelos em dia de chuva. O que fazemos com o tempo? Deixamos que invada as coisas e os corpos com dobras, rugas, amarelo e branco ou lutamos para perdurar o brilho e o cheiro do que é novo?

É mesmo um velho escultor.

~CC~





1 comentário:

  1. :)

    Tudo envelhece, até as nossas coisas. Preferimos sempre o novo, acho que assim não temos tanto a noção de fim :)

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