domingo, 18 de setembro de 2016

Meia idade


Elas crescem, expandem-se, voam.

Quando penso em querer viver, viver muito mais, penso sempre em vê-las, saber como serão as suas vidas, poder embalar os bebés que terão ou não, assistir às suas carreiras, às experiências que terão, às viagens das quais trarão cheiros e fotos.

É mesmo isto a meia idade, não significa não querer coisas para mim, mas querer cada vez menos isso sim. Querer mais para eles, para elas (se uso "elas" é porque tenho uma família onde as mulheres jovens são sem dúvida a maioria, há apenas um príncipe, muito mais princesas).

A mais nova veio agora para a faculdade e serviu-nos chá e bolo numa casa minúscula com um quintalinho amoroso no meio da cidade. A casa fica na rota dos aviões, olharei para lá cada vez que voltar a Lisboa, pensarei se sempre terá plantado mais qualquer coisa no quintal.

O bebé novo de uma das mais velhas cresce a olhos vistos.

Festejaremos na Terça os 18 anos daquela escolheu ser actriz, era uma bebé feliz de olhos e caracóis pretos. Que conseguirá com esta escolha tão arriscada que fez e que foi aquela que não pude, não consegui fazer. É bom ter suporte para poder arriscar.

Quero ver tudo, quero ser futuro. O sentido da minha vida já não é apenas o da minha vida. Intensificou-se essa sensação ao ser mãe mas vai agora muito além, diversificou-se com todos estes caminhos que se traçam, os quase filhos, os sobrinhos, um quase neto. Os "quase" ficam mal mas é como se não me sentisse direito de apropriação total, ficam sempre a um passo daquele abraço sem medo dos outros, mas gosto deles também, interesso-me.

Os rios cruzam-se, bifurcam-se, encontram-se mais além. A vida tem imensa piada, não sei a razão de tanta angústia vir perturbar-me às vezes, ou talvez saiba, mas quero sempre vencer, vencer isso e muito mais.

A minha irmã mais velha dizia muitas vezes perante provas que iríamos enfrentar: vou acender uma vela.  E não há ateia como ela. Mas a vela era a nossa chama, a nossa força.

~CC~


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