domingo, 9 de outubro de 2016

Cabelos, perucas e chapéus


A princípio parece que tudo é uma batalha fácil, chegamos ali, cortamos o bocado doente e voltamos a ser o que éramos.

Depois vem mais um exame e mais outro. Nada parece ser já tão fácil. Depois chega a palavra danada: quimioterapia. As palavras constroem o mundo, ditam-no, Só esta disparou em mim como um choque eléctrico: afinal estou mesmo doente, isto não foi apenas um pesadelo da noite passada. Ocorreu-me uma asneira ou outra, das leves, já que as mais pesadas não aprendi a dizer, andaram tão longe da minha educação, que pena tenho disso agora, fazia-me bem soltar umas quantas, mas não sei.

Cortei o cabelo um bocadinho mais curto enquanto a cabeleireira trazia o catálogo das perucas, afinal há catálogos de tudo e nunca me imaginei a ver um destes. Por mais que queira não me imagino com cabelos artificiais. Pensei em pedir-lhe o catálogo de chapéus, mas talvez isso fosse noutra loja, talvez ela levasse a mal. E um catálogo de lenços para cabeças carecas, será que há? Dantes não imaginaria, mas agora acho que sim, alguém no mundo já deve ter inventado tal coisa.

Quando eu e o meu amor ainda mal nos conhecíamos mas já namorávamos fomos a Salamanca num Inverno muito frio. Comprei um chapéu e ele dizia que eu parecia uma russa, chamava-me Tatiana. Hei-de comprar uns tantos e inventar nomes para eles de acordo com a cor e o modelo, isto se o cabelo cair realmente, dantes era certo mas agora parece que varia de acordo com a corzinha malvada do líquido que nos põem na veia.

~CC~ 





3 comentários:

  1. Não consigo imaginar como deve ser difícil, CC. Acredito que vai vencer esta batalha, seja de peruca, de lenço, de chapéu. Abraço

    ResponderEliminar

Passagens