Sempre gostei muito de cinema. Entre as muitas coisas que poderia ter sido, estar atrás de uma câmara poderia ter-me feito feliz, à frente dela nem tanto. Gosto muito especialmente de documentários.
Mas nunca liguei muito às cerimónias de atribuição de prémios nos diversos festivais e aos Óscares em particular. Se bem, que ultrapassada a fase anti americana, via de vez em quando a cerimónia, sabia o que se passava, quase sempre atenta. Mas a minha costela mais anárquica e crítica sempre a considerar como é possível que só se fale de cinema a propósito de uma parcela do mundo, como tanta coisa magnífica a passar-se no resto dele.
Mas no ano passado tudo mudou. Estava internada nos cuidados intensivos em que não havia televisão. Mas estive sempre consciente, literalmente sempre. E as pequenas coisas tinham um valor imenso, tudo era sinónimo de vida, de normalidade, de encontro com os outros. O médico responsável pela unidade gostava de cinema, eu, ele e a minha filha falávamos de cinema. E apostámos em conjunto em torcer pelo Moonlight para melhor filme. Eu tinha visto o filme com ela. numa televisão portátil que eles tinham trazido. O filme ganhou e na manhã seguinte o médico veio dizer-me eufórico que tínhamos ganho. Mais tarde disse-me que quando o filme foi vencedor intuiu que também eu seria vencedora.
Emocionei-me hoje por os ter vindo ver, dizer-lhes como esta batalha também se ganhou com eles. Para o lembrar que a cerimónia é já este domingo. Em quem apostamos desta vez perguntou ele. E eu respondi que nos "Três Cartazes à beira da estrada" para melhor filme. Ele disse que para melhor actor Daniel Day Lewis, pela Linha Fantasma. Eu não vi mas se puder ainda vejo. E rimos.
Mas pela primeira vez em muito tempo tive uma genuína vontade de chorar, segurei as lágrimas a custo.
~CC~
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